São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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Escritor deve retomar romances inacabados

OTÁVIO DIAS
DO ENVIADO A SALVADOR

Ao comunicar à Folha anteontem que a intervenção cardíaca a que se submetera Jorge Amado havia sido, em princípio, bem-sucedida, Zélia Gattai, que também é escritora, comemorou: "Agora, ele vai voltar a escrever. E eu também".
Segundo Zélia, a retomada dos projetos literários de ambos -abandonados desde que o escritor foi internado em Paris em maio passado com edema pulmonar agudo- será uma maneira de o casal descansar dos "sustos e preocupações" dos últimos meses.
"Foram meses de angústia. Qualquer gemido dele, eu já perguntava: 'O que foi?', com o coração na boca", conta Zélia, casada com o escritor há 51 anos.
"O pior é que ele gosta muito de gemer, por prazer. O único jeito foi proibi-lo de soltar gemidos", brinca.
Amado tem dois livros começados. O primeiro deles é "Bóris, o Vermelho". Não se trata de um romance sobre comunismo.
O protagonista chama-se Bóris porque sua mãe lia folhetins e se impressionava com as festanças na corte do czar russo. Já "vermelho" vem da cor dos cabelos do personagem, um mulato-sarará.
Desde que começou a ser escrito, em 1982, "Bóris" foi passado para trás por quatro outros livros de Amado: "Tocaia Grande", "O Sumiço da Santa", "Navegação de Cabotagem" e "A Descoberta da América pelos Turcos".
"Fico revoltada cada vez que Jorge coloca o 'Bóris' na geladeira. Se eu fosse esse rapaz, me rebelava", diz Zélia.
O outro romance inacabado de Jorge, iniciado no segundo semestre de 94, recebeu o nome provisório de "A Apostasia Universal de Água Brusca".
Segundo palavras do próprio escritor, "o livro pretende ser um painel do interior do Nordeste brasileiro no início do século, subjugado aos plenos poderes da Igreja Católica e dos senhores feudais, deste lado do Atlântico conhecidos como coronéis".
Já Zélia Gattai pretende concluir o livro "A Casa do Rio Vermelho", no qual relatará fatos acontecidos na residência do casal, em Salvador, nos últimos 33 anos.
(OD)

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