São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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Doença da "vaca louca" infecta o homem

DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas britânicos afirmam ter descoberto a primeira evidência direta de que a doença da "vaca louca" pode infectar o homem e provocar o desenvolvimento de uma nova variedade da doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD).
Sintomas da CJD são semelhantes aos da encefalopatia espongiforme bovina (BSE), nome científico do mal da "vaca louca", que é epidêmica no Reino Unido.
A CJD é uma encefalopatia espongiforme humana. Ataca o cérebro, provoca degeneração mental, descontrole muscular e mata 90% de suas vítimas em um ano. Atinge uma pessoa em 1 milhão.
John Collinge, da Escola de Medicina do Imperial College, de Londres, mostrou, com um novo método, que a nova variedade de CJD, identificada em março de 96, difere das outras formas humanas da doença e é semelhante à que ocorre em bovinos.
O estudo de Collinge está sendo publicado na edição de hoje da revista científica britânica"Nature".
Até agora, só era possível diferenciar as encefalopatias espongiformes pela identificação de seus sintomas em experimentos feitos com ratos e que demoram vários meses para dar resultado.
A nova forma da CJD foi identificada bioquimicamente a partir dos tipos de dano cerebral que causa.
A "vaca louca" e a CJD são causadas, acredita-se, por uma proteína infecciosa, o príon ("partícula infecciosa proteinácea").
Diagnóstico
Collinge e equipe descobriram que as características dos príons dos pacientes que morreram da nova forma de CJD eram semelhantes às dos encontrados em ratos e macacos experimentalmente infectados pela doença da "vaca louca". Esses príons eram diferentes daqueles obtidos em doentes humanos mortos de CJD esporádica ou acidental.
Há quatro variedades da CJD. Uma delas é causada por uma mutação genética. Outra se manifesta quando crianças recebem injeções de hormônio de crescimento feito, por engano, a partir de cérebros de pessoas que morreram de CJD.
Uma terceira ocorre espontaneamente e tem causa desconhecida. A quarta, a identificada este ano, é a estudada por Collinge.
Em março de 1996, o Comitê Consultivo de Encefalopatia Espongiforme, que assessora o governo britânico sobre o assunto, havia dito que dez pessoas poderiam ter sido infectadas depois de comer carne bovina. Collinge faz parte deste comitê.
Sua pesquisa na "Nature" mostrou evidências dessa infecção.
O cientista espera desenvolver, em no máximo seis meses, um teste que possa detectar a doença a partir de amostras de príons tiradas das amígdalas ou dos nódulos linfáticos de pacientes vivos, para que seja evitado o método de biopsia cerebral, atualmente usado.
"Penso que as evidências que encontramos, apesar de não totalmente concludentes, devem ser levadas muito a sério", disse.

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