São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Téchiné encontra a base no desequilíbrio

CECÍLIA SAYAD
DA COORDENAÇÃO DE ARTIGOS E EVENTOS

Quando iniciou o roteiro de "Os Ladrões", o cineasta André Téchiné, 53, buscou colocar-se na posição de uma criança que tenta compreender o mundo dos adultos.
No filme, essa criança é Justin (Julien Rivière), um menino acordado no meio da noite com a notícia da morte de seu pai, líder de uma quadrilha de ladrões.
Justin é apenas um dos muitos personagens que protagonizam as tramas de "Os Ladrões".
Juntam-se a ele Alex (Daniel Auteuil), um policial vindo de uma família de marginais, Marie (Catherine Deneuve), uma professora de filosofia, e Juliette (Laurence Côte), a aluna e amante.
Em entrevista à Folha por telefone, de Viena, Téchiné disse que quis evitar que seu filme possuísse um personagem e uma trama centrais, "pois a verdade não pertence a ninguém".
*
Folha - De onde surgiu a idéia de fazer um policial?
Téchiné - A idéia, no início, era criar um personagem que me fosse antipático (Alex). A partir dele, fui conduzido a falar do banditismo e acabei fazendo um filme policial.
Folha - É verdade que o sr. escreveu o roteiro em duas etapas?
Téchiné - Sim, pois queria que o inverno e o verão estivessem presentes no filme. Escrevi primeiro as cenas que se passam durante o inverno, filmei, e depois escrevi as cenas do verão.
Finalizei a primeira parte do roteiro sem conhecer a conclusão da história, buscando somente acompanhar os personagens.
Folha - O sr. escreve os roteiros de seus filmes tomando como ponto de partida os personagens?
Téchiné - Exato. A história deve obedecer à lógica interna deles.
Folha - Os personagens se transformaram muito no decorrer das filmagens?
Téchiné - Sim, alguns ganharam maior destaque do que o previsto no roteiro inicial, como Juliette. Outros, que tinham maior importância no roteiro, como o pai de Alex, acabaram tendo sua participação reduzida.
Folha - Os atores intervêm no desenvolvimento dos personagens?
Téchiné - Sim, quando eu percebo que têm, por exemplo, dificuldades com os diálogos. Então, modifico as falas, para que se apropriem do papel.
Folha - Como é o seu trabalho com os atores?
Téchiné - Ensaiamos pouco, mas faço muitas tomadas diferentes para que eles esqueçam as marcas e percam o controle. Não me interessa que um ator tenha controle absoluto sobre seu personagem. Gosto de tirar dos atores coisas não muito construídas ou elaboradas.
Folha - É difícil reunir atores desconhecidos e atores famosos num mesmo filme?
Téchiné - É enriquecedor para os dois lados: para alguém conhecido, o confronto com um novato traz questionamentos. Para um novato, é uma possibilidade para observar um ator experiente. Esse desequilíbrio é desconfortável, e os torna mais verdadeiros.

Filmes: Os Ladrões
Quando: amanhã, 15h20, no Masp

Texto Anterior: Espaço Unibanco abre hoje três novas salas no Rio de Janeiro
Próximo Texto: Eizo Sugawa compõe conto do amor louco
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.