São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996 |
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Téchiné encontra a base no desequilíbrio
CECÍLIA SAYAD
No filme, essa criança é Justin (Julien Rivière), um menino acordado no meio da noite com a notícia da morte de seu pai, líder de uma quadrilha de ladrões. Justin é apenas um dos muitos personagens que protagonizam as tramas de "Os Ladrões". Juntam-se a ele Alex (Daniel Auteuil), um policial vindo de uma família de marginais, Marie (Catherine Deneuve), uma professora de filosofia, e Juliette (Laurence Côte), a aluna e amante. Em entrevista à Folha por telefone, de Viena, Téchiné disse que quis evitar que seu filme possuísse um personagem e uma trama centrais, "pois a verdade não pertence a ninguém". * Folha - De onde surgiu a idéia de fazer um policial? Téchiné - A idéia, no início, era criar um personagem que me fosse antipático (Alex). A partir dele, fui conduzido a falar do banditismo e acabei fazendo um filme policial. Folha - É verdade que o sr. escreveu o roteiro em duas etapas? Téchiné - Sim, pois queria que o inverno e o verão estivessem presentes no filme. Escrevi primeiro as cenas que se passam durante o inverno, filmei, e depois escrevi as cenas do verão. Finalizei a primeira parte do roteiro sem conhecer a conclusão da história, buscando somente acompanhar os personagens. Folha - O sr. escreve os roteiros de seus filmes tomando como ponto de partida os personagens? Téchiné - Exato. A história deve obedecer à lógica interna deles. Folha - Os personagens se transformaram muito no decorrer das filmagens? Téchiné - Sim, alguns ganharam maior destaque do que o previsto no roteiro inicial, como Juliette. Outros, que tinham maior importância no roteiro, como o pai de Alex, acabaram tendo sua participação reduzida. Folha - Os atores intervêm no desenvolvimento dos personagens? Téchiné - Sim, quando eu percebo que têm, por exemplo, dificuldades com os diálogos. Então, modifico as falas, para que se apropriem do papel. Folha - Como é o seu trabalho com os atores? Téchiné - Ensaiamos pouco, mas faço muitas tomadas diferentes para que eles esqueçam as marcas e percam o controle. Não me interessa que um ator tenha controle absoluto sobre seu personagem. Gosto de tirar dos atores coisas não muito construídas ou elaboradas. Folha - É difícil reunir atores desconhecidos e atores famosos num mesmo filme? Téchiné - É enriquecedor para os dois lados: para alguém conhecido, o confronto com um novato traz questionamentos. Para um novato, é uma possibilidade para observar um ator experiente. Esse desequilíbrio é desconfortável, e os torna mais verdadeiros. Filmes: Os Ladrões Quando: amanhã, 15h20, no Masp Texto Anterior: Espaço Unibanco abre hoje três novas salas no Rio de Janeiro Próximo Texto: Eizo Sugawa compõe conto do amor louco Índice |
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