São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA SEM BASE

A dura crítica ao Mercosul feita pelo economista Alexander Yeats, do Banco Mundial, parece um "paper" produzido mais para causar impacto do que para realmente analisar de maneira correta a realidade.
A constatação de Yeats tem, em resumo, duas vertentes: uma é a de que o Mercosul tem uma tendência protecionista em relação aos demais países. A outra é a de que criou um mundo artificial de crescimento econômico, em que indústrias menos eficientes só conseguem prosperar porque estão protegidas.
A primeira crítica é facilmente desmontável a partir das estatísticas. É verdade que o comércio entre os quatro países do Mercosul cresceu exponencialmente a partir da derrubada das barreiras: subiu de US$ 4,2 bilhões, em 1990, quando se inicia o processo de integração, para US$ 12,3 bilhões em 1994.
Mas essa é uma tendência natural, que ocorre em todos os demais processos de integração regional.
O fato é que o crescimento do comércio intraMercosul não representou um fechamento às importações dos demais países. Segundo os dados do Itamaraty, o Mercosul comprou em 95, do resto do mundo, 120% mais do que importava em 90.
A segunda acusação feita tem uma dose de verdade se limitada ao principal aspecto examinado pelo economista, o da indústria automotiva. De fato, o Brasil está impondo, neste momento, uma tarifa de importação de 70% para os veículos.
É uma proteção exagerada, mas parece irrealista afirmar que se trata de um setor ineficiente. Ainda mais que a tendência da indústria é no sentido do "carro mundial", ou seja, um modelo desenhado nas pranchetas da Volkswagen na Alemanha ou da Ford nos Estados Unidos acaba sendo produzido em todas as unidades dessas montadoras espalhadas pelo mundo, Brasil inclusive.
Resta esperar que a pronta reação por parte de representantes do Mercosul venha a sepultar uma polêmica que seria de todo artificial.

Texto Anterior: NOVA TRAGÉDIA
Próximo Texto: Um crime oficial
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.