São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Tucanos temem campanha do voto nulo

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

Um terceiro "candidato" ameaça disputar o segundo turno das eleições para a Prefeitura do Rio com o tucano Sérgio Cabral Filho e o pefelista Luiz Paulo Conde. É o voto nulo, cuja "candidatura" é apoiada por PT, PDT, PSB, PC do B, PCB e PSTU e ameaça virar uma onda de pré-verão na cidade.
"É modismo", diz o líder do governo e do PSDB na Assembléia Legislativa, deputado Paulo Melo. "É uma onda que o PT pega, o PDT pega: a onda das lágrimas do Chico Alencar (candidato do PT, eliminado do segundo turno)."
Cabral Filho já se prepara para enfrentar o "adversário", ainda que indiretamente. Em seu programa no horário eleitoral, ressaltará a importância do voto.
A iniciativa mostra a preocupação com a campanha que, para os tucanos, pode tirar mais votos do PSDB que do PFL.
A preocupação tem motivos. Pesquisa Datafolha indicou que admitem votar em branco ou nulo 19% dos eleitores do Rio. No primeiro turno, segundo a Justiça Eleitoral, essa taxa atingiu 13,03%.
Os tucanos avaliam que a campanha do voto nulo tirará mais votos do PSDB que do PFL.
O cientista político Bolívar Lamounier acha que há pessimismo exagerado. "Não creio que uma campanha de voto nulo tenha grande efeito", diz.
"Em 1970, houve uma campanha desse tipo e muitos votos nulos, mas era uma eleição fria, sem interesse da população, no auge do regime militar."
Os tucanos compreendem por que esquerdistas de matizes variados não votam no pefelista Luiz Paulo Conde, mas não sua repulsa a Cabral Filho.
"A campanha do voto nulo não tira votos do Conde", diz o presidente do PSDB local, Otávio Leite. "Conservador não anula voto."
Difícil é convencer os petistas e aliados de que Cabral Filho não é conservador. A impressão, dizem líderes esquerdistas, foi reforçada por atitudes do candidato no primeiro turno. Como quando atacou Conde por defender o aborto e a união entre homossexuais.
As declarações do tucano trouxeram, principalmente para os petistas, más lembranças. "Isso teve efeito, para o eleitorado mais crítico, do uso, pelo Collor, em 1989, da Miriam Cordeiro contra o Lula", diz Alencar. "Deu a idéia do candidato arrivista: todos sabem que ele não pensa aquilo."
Na campanha de 1989, para barrar a ascensão do petista Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PRN, Fernando Collor, levou, a seu programa na TV, Miriam, ex-namorada do postulante do PT. Ela acusou Lula de ter tentado induzi-la a abortar, o que abriu caminho à vitória de Collor.
Já o PPS vai apoiar Conde. O deputado Sérgio Arouca, derrotado no primeiro turno, promete procurar entidades da sociedade civil pedindo ações contra o voto nulo.
"Uma parte da esquerda deixou de ser propositiva", afirma. "É a posição do ressentimento."

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