São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Homens e mulheres se sentem usados

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos dois anos, o número de pessoas que fazem teste de paternidade dobrou. Só no Imesc, um instituto de perícia ligado à Secretaria de Estado da Justiça, serão feitos 12 mil testes este ano. Em 1994, foram realizados 5.756.
A fila de espera é de dois anos. Na grande maioria dos casos, são mães que recorrem à Justiça para que o pai assuma o filho. Nessa fila estão cerca de 16 mil filhos procurando pelo pai.
O Imesc ainda não faz testes de DNA e sim de HLA, que tem 98% de chance de identificar o pai.
Todas as manhãs, mães, crianças e supostos pais lotam duas salas do 6º andar do prédio do Imesc, no centro da cidade. A parede que separa as salas divide ressentimentos e opiniões sobre a responsabilidade do homem na paternidade.
Na sala da esquerda ficam as mulheres acompanhadas de seus filhos. Na outra, os homens apontados como pais. Um guarda separa os dois grupos.
"Os homens só querem saber de prazer, comem a carne e jogam o osso no lixo", afirma a diarista Terezinha de Lourdes Pinto, 27. "Com uma lei assim, o mundo se encheria de crianças sem pai."
Terezinha já tem duas meninas de pais diferentes. Nenhum deles reconheceu as crianças.
A bordadeira Marcia Aparecida dos Santos também diz que perdeu a confiança nos homens. "Nem mesmo com a lei eles ajudam os filhos", afirma. "Sem lei, as crianças ficariam sem proteção."
Até agora, a lei nada fez por Marcia. Ela teve dois filhos com o mesmo namorado que se recusa a assumir as responsabilidades de pai. Uma criança já tem cinco anos.
Na sala ao lado, são os homens que se sentem enganados. Vários acham que foram "usados" e que a lei é muito rigorosa. "Devia ter um documento que protegesse os homens de interesseiras", diz o mecânico David R., 46.
O motorista Rinaldo, 37, diz que se sente duplamente enganado pela mulher que está tentando provar sua paternidade. "Primeiro ela me disse que nunca queria ter filho. Aí apareceu grávida e eu dei o dinheiro para o aborto. Mas depois ela disse que eram gêmeos e que só tinha abortado um."

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