São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996 |
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Economia mexicana volta a preocupar
GILSON SCHWARTZ
Ao longo das últimas duas semanas o peso voltou à berlinda, acumulando uma desvalorização frente ao dólar de cerca de 5,5% e se aproximando da marca de 8 pesos, uma paridade que o governo de Ernesto Zedillo esperava apenas para dezembro. Na última sexta-feira a ansiedade e a corrida cambial eram atribuídos à assinatura iminente do pacto antiinflacionário conhecido como "Aliança para a Recuperação Econômica". As expectativas são de que o "pacto" leve a reajustes salariais de até 22%. Mas essa é apenas parte da história. Dois anos depois de ter sido vítima do terremoto cambial, a economia mexicana continua rastejando e contando as vítimas. A instituição conhecida como Fobrapoa (um fundo de seguro de depósitos bancários) já acumula US$ 34,5 bilhões em empréstimos problemáticos transferidos por bancos em dificuldades. Na semana passada houve mais uma incorporação de banco quebrado, uma operação de cerca de US$ 500 milhões, mas que jogou no fundão da Fobrapoa mais US$ 2,3 bilhões em empréstimos podres. Esse saco de ativos podres corresponde hoje a um terço de todos os empréstimos da economia mexicana. Há algumas semanas o governo mexicano divulga estatísticas que mostram uma retomada do crescimento econômico. É fato, sempre lembrando que a "recuperação" acontece na comparação com um ponto de partida dos mais catastróficos. Mas para se ter idéia do que realmente dificulta uma autêntica retomada do crescimento é preciso reparar no enorme estoque de créditos podres. E no fato de que essa montanha de inadimplência voltou a crescer. Em setembro, a carteira vencida aumentou 2,26% com relação a agosto. Em 30 de setembro, 48,9% da carteira total de crédito no mercado mexicano estava vencida e só nesse mês foram mais 187 mil devedores que deram o calote. Uma parte significativa desses devedores nada mais é do que gente que acaba de reestruturar suas dívidas. Privatização Num país em que os males econômicos têm sido tão duradouros, a pior notícia das últimas semanas é o comprometimento do processo mexicano de privatização. O Partido Revolucionário Institucional, que há décadas domina a sociedade mexicana, levantou-se contra a privatização do setor petroquímico. O governo recuou, mudou as regras do jogo e estabeleceu um limite de 49% para a privatização no setor (100% de propriedade privada, a partir de agora, só no caso de novas plantas). Empresas dos EUA, Canadá e Argentina já se manifestaram contra. O fato é que têm sido frequentes as análises que apontam para o excesso de demanda de produtos petroquímicos em escala global, o que levou a uma alta de preços. O Estado mexicano (leia-se PRI) achou conveniente não abrir mão dessa fonte de receita (lembre-se que o Chile não privatizou a exploração do cobre). Mas a frustração com o neo-estatismo mexicano não é um fato isolado no contexto da privatização no país. Mais de US$ 1 bilhão que teria sido arrecadado com a privatização durante a gestão do ex-presidente Salinas de Gortari simplesmente desapareceram, segundo fontes oposicionistas. Privatização lenta, crise de crédito, bancos em dificuldades, câmbio sob suspeita, corrupção e dificuldade para encontrar um novo modelo de desenvolvimento. Mas trata-se do México, uma economia da qual, como se sabe, são diferentes todos os outros países da América Latina. Texto Anterior: Perversão tributária Próximo Texto: O controle do FGTS Índice |
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