São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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AULA VERSUS TEATRO

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Panorama do Teatro Brasileiro", título de obra histórica do crítico e professor Sábato Magaldi, chegou à marquise da Aliança Francesa como título de todo um repertório do grupo Tapa.
Um repertório que cobre a dramaturgia brasileira desde o início oficial, na entrada do século 19. Foi este repertório do "Panorama" que ajudou a elevar em qualidade um gênero até então quase amador, quando não oportunista.
Os espetáculos voltados a estudantes, como complemento ao 2º grau ou preparação ao vestibular, ganharam caráter de teatro profissional, com aspiração de arte.
Em montagens como "Vestido de Noiva" (Nelson Rodrigues), "Morte e Vida Severina" (João Cabral de Melo Neto), "O Noviço" (Martins Pena), atingiu-se um meio termo entre aula e espetáculo que passou a servir de modelo.
Outras produções do gênero, como "Auto da Barca do Inferno", inicialmente dirigida por Paschoal da Conceição, do grupo Oficina, e agora com uma nova encenação de Creuza Borges, avançaram na mesma linha.
Mas nem tudo, é claro, acompanha a qualidade mencionada. Coincidência ou não, é nas obras escritas para o palco que o gênero "aula-espetáculo" se dá melhor. E pior, nas adaptações.
Exemplo é "Dom Casmurro", em cartaz no teatro Lucas Pardo Filho. Não falta potencial no elenco, na adaptação, mas o espetáculo é de cunho semiprofissional.
A adaptação do diretor José Paulo Rosa para Machado de Assis, de razoável ação dramática, cai em explicações excessivas, em pausas; cai na representação respeitosa, correta no falar, no ensinar. É uma aula, bem mais do que um espetáculo. E uma aula em teatro ainda não inteiramente montado, com iluminação limitada, cenografia quase inexistente, figurinos adaptados.
O extremo contrário, em qualidade de "aula-espetáculo", é "O Noviço", encenada por Brian Penido, do Tapa. Também aqui, como em todas as peças do gênero, é uma montagem ao pé da letra, reverente aos arcaísmos.
Mas trata-se de uma farsa, de uma peça das mais engraçadas, deste autor que abre, oficialmente, a dramaturgia nacional. Ganha interpretação à altura de seu humor, sobretudo na atuação dominante de Ana Lúcia Torre.

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