São Paulo, sexta-feira, 1 de novembro de 1996
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O bolo e o pragmatismo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Lembra-se da teoria do bolo, a tese de que é preciso esperar o bolo crescer para depois distribuir suas fatias mais igualmente? É falsa.
É o que demonstra estudo de dois economistas do Banco Mundial, resumido no número mais recente da revista britânica "The Economist".
Os dois examinaram os casos de 88 países em que houve crescimento da renda per capita durante uma década. Efeito sobre a desigualdade: diminuiu em 45 dos casos, mas aumentou em 43.
A revista cita também outro estudo que trata da hipótese exatamente inversa, ou seja, a de que a desigualdade acentuada é um entrave ao crescimento. Nesse caso, o trabalho, de Roberto Perotti, da Columbia University, prova que, sim, desigualdade atrapalha o crescimento.
Perotti mede a desigualdade de maneira diferente da convencional, que aplica o tal coeficiente de Gini. Trata-se de uma escala de 0 a 1, em que 0 é a igualdade absoluta e, 1, a mais extrema desigualdade.
Perotti prefere definir desigualdade de acordo com a porcentagem da renda que vai para o que chama de "classe média", ou seja, os 40% que ficam no meio da escala de distribuição.
Se essa classe média receber uns 5% a mais da produção de um dado país, a taxa de crescimento desse país pode subir até 0,6 ponto percentual.
Mais iniquidade leva a menos educação, especialmente no nível secundário, demonstra o estudo, que vai a números depois da vírgula: se a classe média encolher 5%, cai 6,5% o número de meninas que frequentam a escola secundária.
No fundo, os dois trabalhos apontam numa mesma direção: reduzir a desigualdade, além de um imperativo ético, moral etc, é também uma questão do mais estrito pragmatismo. Não é bom apenas para os beneficiados diretos, mas para o conjunto da economia. Afinal, todos ganham com mais crescimento econômico, ainda que alguns ganhem mais do que outros, como é óbvio.

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