São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Leia os principais trechos do primeiro debate direto entre Pitta e Erundina

3. Segurança, influência de Maluf e alianças do PT acirram o encontro
Matinas - Neste bloco os candidatos responderão às perguntas dos jornalistas Marco Nascimento, da Rede Cultura de Televisão, e Fernando Canzian, da Folha. De acordo com o regulamento firmado com as assessorias dos candidatos, os jornalistas terão um minuto para cada pergunta e não serão permitidas a réplica e a tréplica.
Marco Nascimento - Eu gostaria de formular uma única pergunta para os dois candidatos. O paulistano tolera o trânsito, tolera o caos em dias de chuva, tolera a poluição, mas cada dia tolera menos a violência desta cidade. É inaceitável também que um exército de crianças perambulem pelas ruas, abandonadas à própria sorte. Cidades como Tóquio, Londres e Nova York têm os seus próprios programas de assistência e a sua própria polícia e são consideradas as melhores do mundo. Nova York, por exemplo, com 7,5 milhões de habitantes e 30 mil policiais, conseguiu reduzir o índice de violência em torno de 30%. E hoje, em Nova York, há cerca de 42 mil crianças ou menores de 18 anos sob a tutela da cidade. Em São Paulo, ao contrário das principais metrópoles do mundo, essas responsabilidades são mais do Estado do que da cidade e o resultado é o que conhecemos. Pergunto: o que o poder público pode fazer para conter a violência e tirar de fato as crianças da rua?
Erundina - Olha, é verdade que a competência pela segurança pública é do governo do Estado, mas o prefeito ou a prefeita, o município, não pode se omitir diante desse problema, não para substituir a competência do outro poder, mas se juntar a ele para aumentar o potencial e as possibilidades de solução para esses problemas.
Há uma solução que deve ser atacar as causas, que é o combate à pobreza. E nós temos programas para isso, sobretudo, programas de renda mínima, que é complementar a renda familiar. Famílias que têm crianças de zero a 14 anos e garantir, obrigar que essas crianças sejam mantidas na escola.
Combater o desemprego também, oferecendo alternativas de sobrevivência e ajuda, através de uma cooperativa de ajuda financeira para que quem esteja desempregado ou queira começar uma pequena atividade possa criar uma alternativa de sobrevivência. E pretendemos aumentar a Guarda Civil Metropolitana para 10 mil elementos, treiná-los, formá-los e garantir uma dupla de guarda metropolitana em cada escola.
Pitta - Bom, mesmo antes do início da campanha, o meu vice, o deputado Régis de Oliveira, encaminhou na Câmara Federal uma proposta de emenda constitucional transferindo as polícias Militar e Civil para a órbita do prefeito em cidades com mais de 200 mil habitantes, que é o caso de São Paulo. Essa idéia, que foi nossa, ela se baseou exatamente no exemplo de Nova York e outras grandes cidades, onde o policiamento ostensivo está subordinado ao prefeito.
Felizmente, já temos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal um parecer favorável e dentro em breve esse assunto entrará em votação. Teremos recursos para fazer face a essa nova atividade da prefeitura, porque estamos propondo que parte dos tributos federais aqui arrecadados permaneçam para essa finalidade.
No que diz respeito à segurança das escolas, faz parte do nosso programa de governo a introdução da ronda escolar. Além de cada escola ter um guarda municipal haverá viaturas que serão desmembradas da guarda municipal, com pessoal treinado, especializado para o atendimento de escolas, crianças e professores, que fará a ronda no perímetro da escola.
Matinas - Vamos agora às perguntas do jornalista Fernando Canzian, da Folha.
Fernando Canzian - Antes da minha primeira pergunta eu gostaria, em nome da Folha, de expressar o nosso protesto contra a imposição da assessoria do candidato Celso Pitta de limitar a participação da imprensa neste debate e de não permitir que os jornalistas façam réplicas. No nosso entendimento, essa imposição restringe a qualidade deste debate.
Minha pergunta ao candidato Celso Pitta, do PPB, é a seguinte: o prefeito Paulo Maluf tem feito reuniões às quais o sr. não participa. Ocorreu na segunda-feira na casa do prefeito onde foram decididos nomes de outros partidos que vão participar do seu secretariado.
É o prefeito Paulo Maluf também quem tem participado de carreatas no lugar do candidato Celso Pitta, e os ataques aos adversários também partem mais do prefeito do que do próprio candidato. Com esses elementos, não fica difícil o sr. responder às críticas de seus adversários, de que o sr. não passa de um candidato fantoche criado pelo prefeito para ganhar as eleições aqui em São Paulo?
Pitta - Eu considero, inclusive, o questionamento agressivo, desnecessariamente agressivo, mas eu respondo com muita tranquilidade. Primeiro, porque essa informação de que estava em composição o secretariado de um futuro governo é totalmente improcedente. Em primeiro lugar, nós não temos ainda uma decisão com relação ao pleito do dia 15 de novembro. Em segundo lugar, de fato, se eleito, serei eu o prefeito e não o sr. Paulo Maluf.
Essas insinuações na realidade fazem parte de uma ausência de críticas de fato procedentes em relação à minha candidatura. Por quê? Se forem admitir que eu sou um bom candidato, que represento um governo que teve sucesso, que está tendo sucesso e cuja plataforma de governo é exatamente dar continuidade a esse governo de sucesso, o que nós teremos então em termos de bandeira da oposição, em termos de agressividade como a que foi colocada aqui pelo prezado jornalista? Nada. A não ser a figura de ser um instrumento, um fantoche do prefeito Paulo Maluf.
A dura realidade é que nós temos uma proposta consistente de governo, que nós representamos a continuidade de uma administração que é aprovada por perto de 90% da cidade. O reconhecimento disso por parte dos nossos adversários é que não pode ser admitido por eles mesmos. Então, há sempre uma necessidade de colagem de alguns apelidos, de algumas situações, mas que o próprio eleitorado recusa e a demonstração clara disso foi a votação expressiva que recebemos no primeiro turno.
Canzian - Candidata, na reta final da campanha eleitoral a sra. se aliou aos tucanos do PSDB, que o PT considera responsáveis pela política que está causando o desemprego no país. Agora, no segundo turno, também se juntou ao PMDB, que o PT sempre criticou por falta de ética na política. Como a sra. explica que o PT, que sempre condenou os outros por alianças antiéticas, alianças casuístas, entre agora no vale-tudo para ganhar essa eleição em São Paulo?
Erundina - Olha, primeiro a lógica de dois turnos supõe, se você quer ir às últimas consequências fazendo o jogo democrático, que no segundo turno você escolha entre duas propostas aquela que evidentemente tenha um pouco mais de identidade com a que você está defendendo. Por isso que eu fui crítica, por exemplo, à decisão do meu partido no Rio de Janeiro por ter proposto a anulação do voto.
Eu acho que quando se entra no processo democrático tem que se ir nele até às últimas consequências. Além disso, esse compromisso com essas forças políticas se dá a partir de compromissos programáticos, de compromissos políticos. Nós estamos rediscutindo a nossa proposta de governo incorporando idéias, propostas e soluções, que as outras forças políticas também construíram e sabem que são adequadas e necessárias.
Desde o primeiro turno, independente de quem viesse a nos apoiar, nós já sinalizávamos que queríamos e queremos um governo de coalizão. A primeira experiência foi limitada nesse ponto de vista e num segundo governo nós queremos ter forças políticas que tenham identidade programática e política para que a gente consiga avançar e dar soluções inovadoras, criativas e efetivas e eficazes aos graves e complexos problemas da cidade de São Paulo. Portanto, não vejo nenhum problema que forças de centro-esquerda se unam, num segundo turno, para viabilizar uma proposta que já não é a mesma do primeiro turno, a não ser na sua essência, nas suas diretrizes fundamentais.

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