São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Pilotos vão estudar falha do Fokker-100

Treinamento visa evitar novo caso

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A suposta falha mecânica que causou a tragédia no vôo 402 da TAM vai virar objeto de estudo de todos os pilotos de Fokker-100 dentro de três meses.
A informação é do comandante da TAM Mário Roberto Gnecco, 39, piloto comercial com 17 mil horas de vôo.
Dentro de três meses, afirmou, a FAB (Força Aérea Brasileira) deverá emitir um vasto relatório/auditoria sobre as causas do acidente no vôo 402.
O comandante da TAM afirmou que todos os pilotos de Fokker-100 terão de "estudar" o acidente para evitar que se repita.
Segundo Gnecco, é "dificílimo, quase impossível que a parte do avião chamada reverso estivesse levantada na decolagem" -o que, suspeita-se, teria causado o acidente que matou 102 pessoas.
Gnecco deu entrevista à Folha durante vôo de São Paulo para Campinas (99 km de SP), na cabine de um Fokker-100, idêntico ao que caiu na zona sul da cidade na última quinta-feira.
Com o avião estacionado, ele repetiu os movimentos necessários para que o "reverso" erguesse. O comando do reversor ficou absolutamente imóvel.
"Veja que ele está travado", disse enquanto a reportagem tentava movimentá-lo.
"Posso afirmar que, até quinta-feira, um problema desse tipo -se é que ocorreu realmente- era considerado absolutamente impossível. A partir de agora, passa a ser 'praticamente' impossível", afirmou Gnecco.
"A possibilidade de acontecer um acidente assim é a mesma de uma televisão explodir quando você estiver assistindo novela, e morrer", reforça Milton Andari, 30, 15 anos de aviação, 4.000 horas de vôo, há três anos na TAM.
Curso
Andari afirma ter feito um curso de instrução em janeiro cujo instrutor era o comandante Moreno, que pilotava o vôo 402.
O co-piloto define Moreno como uma "pessoa absolutamente centrada na função e concentrada nos procedimentos".
"Sem exagero, posso afirmar que Moreno era um dos melhores e mais conscientes pilotos que já conheci", afirmou.
Os "procedimentos", no caso, são os comandos que os pilotos fazem na cabine, por meio de de computadores, quando o avião vai decolar, decola, está subindo, atinge o teto de vôo, vai pousar e pousa.
Tanto Andari como o comandante Gnecco afirmaram nunca ter enfrentado problemas mecânicos com o Fokker-100.
Gnecco, casado com uma ex-aeromoça, três filhos, afirmou ter descido em Congonhas cerca de 30 minutos depois da queda do vôo 402.
"Só dava para ver a fumaça. Só dava para saber que havia caído um avião ali", disse.
Ele afirmou ter sido informado de que o avião acidentado era um Fokker da TAM apenas em terra.
"Não é comum detalharem um acidente pelo rádio, durante o vôo", disse o comandante,
Gnecco afirmou que, quando voa, trabalha em média 10 horas e meia e que, na empresa, tem direito a oito dias de folga por mês.

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