São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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A primeira fábrica do Brasil

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Uma equipe de arqueólogos e outros pesquisadores da USP e da UniSantos começará em março a escavação pioneira do terreno onde foi construído o primeiro, ou um dos três primeiros, engenhos de açúcar do Brasil.
O engenho de São Jorge dos Erasmos, em Santos (SP), construído no século 16, se encontra em ruínas, mas é uma relíquia arqueológica capaz de oferecer explicações sobre as origens da indústria brasileira e sobre o cotidiano do trabalho no início da ocupação portuguesa do país.
O trabalho dos pesquisadores, da USP (Universidade de São Paulo) e da UniSantos (Universidade Católica de Santos), começou no último dia 16 de julho. A primeira fase, de prospecção, deveria terminar na quinta-feira passada.
Na etapa inicial foram levantados dados para delimitar as dimensões do sítio arqueológico do engenho, situado no sopé do morro da Nova Cintra, na região da zona noroeste (periferia de Santos).
Os pesquisadores pretendem preparar a planta mais detalhada que já se fez do local e confrontá-la com outras duas conhecidas, elaboradas pelo arquiteto Luís Saia, nos anos 60, e pelo holandês Paul Meurs, no início dos 90.
A equipe também está analisando material encontrado na superfície do terreno, como fragmentos de louça, cerâmica, telhas, madeira, metais e ossos de animais.
Cada fragmento encontrado é lavado e numerado. Pedaços de louça de pratos, por exemplo, são colados, com a finalidade de tentar reconstituir as peças.
Esse material ficará armazenado na sede do Iparq (Instituto de Pesquisas em Arqueologia), da UniSantos, no Museu de Arte Sacra, situado no morro de São Bento, em Santos.
Escavação
A sequência do projeto dependerá da obtenção de financiamento junto a instituições de pesquisa.
Até agora, o trabalho foi realizado com recursos do Museu Paulista -mais conhecido como Museu do Ipiranga- e da Prefeitura de Santos, que cedeu geólogos, arquitetos e trabalhadores que fizeram a limpeza do terreno.
O 2º Batalhão de Caçadores do Exército, em São Vicente, também colaborou, enviando soldados que ajudaram no trabalho de campo.
Segundo Margarida Andreatta, as escavações revelarão o solo original do engenho, atualmente coberto por uma camada de 30 a 50 centímetros de terra e sedimento, acumulados ao longo de mais de quatro séculos.
A arqueóloga Eliete Maximino, coordenadora do Iparq, da UniSantos, disse que, com as escavações, será possível determinar como se relacionavam as estruturas do engenho e como se comunicavam suas áreas internas.
A edificação original do engenho, atingida por um incêndio no início do século 17, está reduzida a praticamente duas paredes, construídas à base de pedras e de uma argamassa de cal, areia e conchas, segundo Margarida Andreatta.
Ruínas doadas
As ruínas, doadas em 1958 à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP pelo proprietário do terreno, Octávio Ribeiro de Araújo, ocupam uma área de cerca de 3.200 metros quadrados (meio campo de futebol).
A área em torno das ruínas (cerca de 41 mil metros quadrados, o equivalente à metade do estádio do Maracanã), foi doada em 1987 à Prefeitura de Santos pela Pratex Empreendimentos Imobiliários, então proprietária do terreno.
A doação foi resultado de uma negociação entre a prefeitura e a empresa, impedida à época pelo Sphan (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) de realizar uma construção no local.
Com a doação à prefeitura, a área foi considerada de utilidade pública e garantiu-se a visibilidade em torno das ruínas.
Segundo Eliete Maximino, toda a documentação original do engenho, escrita em flamengo arcaico, está na Holanda, sendo traduzida pelo arquiteto Paul Meurs.
Em razão do andamento das pesquisas, a visitação ao engenho está restrita às quintas-feiras, das 14h às 17h. As visitas devem ser agendadas pelo telefone (013) 235-3137.

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