São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Apesar de numerosos, escândalos de Clinton não 'pegam'

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

"Clinton 96, Gore 97" são os dizeres do mais novo adesivo que enfeita automóveis de adversários do presidente dos EUA em Washington, a 48 horas da eleição que quase com certeza o reelegerá.
Os discursos do candidato da oposição, Bob Dole, à medida que a campanha se aproxima do final, se assemelham cada vez mais aos de George McGovern, massacrado nas urnas em 1972 por Richard Nixon, que dois anos depois seria obrigado a renunciar em meio ao processo de seu impeachment. O terceiro candidato, Ross Perot, avisa: "Teremos um novo Watergate" (nome dado ao escândalo que derrubou Nixon).
Clinton tem demonstrado inigualável habilidade para sobreviver a acusações éticas e criminais. Em seu governo, quatro promotores foram nomeados para investigar possíveis atos de corrupção. O presidente e a primeira-dama são objeto de um deles, que apura o caso Whitewater. Clinton é processado por uma ex-funcionária pública por assédio sexual. A Casa Branca admitiu ter manipulado irregularmente 900 dossiês do FBI.
Um total de 32 colaboradores diretos do presidente deixaram o governo sob suspeita de terem cometido ilegalidades. Um deles, Webster Hubbell, está na cadeia. O sucessor de Clinton no governo de Arkansas, Jim Tucker, foi condenado à prisão, assim como dois ex-sócios dele. Quatro CPIs escrutinaram sua administração.
Apesar de tudo isso, o presidente é o favorito na eleição de depois de amanhã. Por quê? Talvez porque os norte-americanos escolham seu presidente pelo que ele faz ao país, não pelos seus traços morais. Ou porque Clinton os relembre de si próprios, suas imperfeições, seus pecadilhos. Ou ainda porque a economia vá bem. Mas, principalmente, porque todas as inúmeras acusações até agora feitas contra o presidente sejam ou incompreensíveis ou vistas como menores.
Um escândalo, para "pegar" na opinião pública, precisa ser simples e grave. A "conexão asiática" é: dinheiro estrangeiro entrando na campanha política, proibido pela lei. Se for estabelecido que alguma ação (ou inação) do governo pode ter sido influenciada por essas doações (a complacência dos EUA com a Indonésia em Timor Leste?), então a "conexão asiática" tem tudo para "colar".
O caso estourou tarde demais para impedir a reeleição. Mas talvez roube de Clinton não só a "goleada" que ele esperava obter sobre Dole como até os 50% dos votos úteis que o impediriam de se tornar o segundo presidente neste século eleito duas vezes com a aprovação de menos da metade dos eleitores que votaram, além de ajudar os republicanos a manterem a maioria no Congresso.
Dole não teve tempo nem talento para explorar o caso. Só lhe resta confiar em superstições. Como a de que nenhum presidente canhoto (como Clinton) conseguiu se reeleger. Ou a de que sempre quando os New York Yankees ganham o campeonato nacional de beisebol, o candidato republicano à Presidência se elege. (CELS)

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