São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dole lutou perto de brasileiros na Itália

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Robert Dole, o candidato republicano à Presidência dos EUA, é o último veterano da Segunda Guerra Mundial a tentar o cargo e a usar essa experiência como capital político. Foi o que fizeram os presidentes Dwight Eisenhower (ex-comandante supremo aliado), John Kennedy (ex-comandante de barco torpedeiro) e George Bush (ex-piloto naval).
Dole é o hoje o sujeito mais famoso que passou pela mais esquecida frente de combate da guerra, a luta no norte da Itália em 1944-45. A experiência foi breve, mas marcou sua visão de mundo, como ele gosta de dizer.
Dole era tenente comandante de pelotão da 10ª Divisão de Montanha. Combatendo à esquerda dessa unidade americana estava a FEB (Força Expedicionária Brasileira); Dole foi ferido a alguns quilômetros de distância dos brasileiros.
Não é por nada que dois raros livros recentes sobre essa frente foram publicados com prefácios escritos pelo candidato republicano.
E Dole os aproveitou para fazer campanha. "Enquanto meus colegas veteranos e eu falávamos, nós refletíamos no que tínhamos conseguido. E nós falávamos com orgulho sobre o fato de que, desde o fim da Segunda Guerra, a América era a líder do Mundo Livre", comentou, lembrando uma viagem à Europa em 94, no prefácio de um desses livros -"The War North of Rome" ("A Guerra ao Norte de Roma"), de Thomas R. Brooks.
"E então nós nos perguntávamos se nossos filhos e netos poderiam ser capazes de dizer a mesma coisa", continua Dole. "Dados os desafios que nosso país enfrenta hoje -um déficit avassalador... um governo que se expande cada vez mais... uma perda dos valores que fizeram nosso país o que ele é... ditadores e tiranos sem medo de usar terrorismo... será que aqueles que lerão este livro daqui a 10, 20, 30 anos ainda poderão dizer que a América é a líder do Mundo Livre?"
Respondendo à sua própria pergunta, ele foi claro: "Eu estou disposto a assegurar que sim".
O outro livro que Dole prefaciou tem um título significativo: "The Forgotten Front in Northern Italy" ("A Frente Esquecida no Norte da Itália"), de Robert H. Schmidt.
Roma foi conquistada pelos aliados na mesma época em que começava a invasão da França, o "Dia D". A guerra na França se tornou então o principal esforço dos aliados ocidentais, relegando a um papel secundário os combates ao norte de Roma.
A 10ª Divisão de Montanha chegou tardiamente à guerra, mas era uma tropa altamente treinada e com equipamento especial.
Era formada por homens acostumados à vida em regiões altas dos Estados Unidos, por esportistas e jovens universitários.
Uma revista americana na época comentou que havia muito "sangue azul" nela. Até um documento alemão capturado dizia que ela tinha "jovens de famílias ricas ou politicamente influentes".
A primeira ação de vulto da 10ª na guerra foi a tomada do monte Belvedere, enquanto a seu lado a FEB tomava o monte Castello, em fevereiro de 1945.
A ofensiva final ocorreu em abril de 45 na Itália na direção do vale do rio Pó; a guerra na Europa acabou em maio.
Dole foi ferido no dia 14 de abril em um local conhecido nos mapas apenas como Colina 913. Ele tinha arrastado seu operador de rádio mortalmente ferido para a proteção de um buraco feito por granada de artilharia, quando foi ferido pelo fogo alemão. Passou 37 meses em hospital se recobrando dos ferimentos. Seu braço direito nunca recuperou completamente os movimentos.

Texto Anterior: Apesar de numerosos, escândalos de Clinton não 'pegam'
Próximo Texto: Ataque de guerrilha mata seis no México; DeBakey vê cirurgia de Ieltsin para breve; Israel mata suposto invasor da Jordânia; Agentes humanitários deixam Zaire sob fogo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.