São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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DEBATE DEFICITÁRIO

Debates entre candidatos, em tese, devem servir para permitir ao eleitorado fazer comparações. Mas, no Brasil, a teoria tem sido repetidamente desmentida pelos fatos.
Começa pela enorme resistência dos líderes nas pesquisas em participar desse tipo de evento, como aconteceu na campanha presidencial de 1989, em que o então líder nas pesquisas, Fernando Collor de Mello, recusou-se a comparecer aos debates feitos antes do primeiro turno.
Quando sentem que fugir pode ser prejudicial, os favoritos escondem-se atrás de regras rígidas que transformam o encontro em mera versão do horário eleitoral. Foi de certa forma o que sucedeu com o debate de sexta-feira entre Celso Pitta (PPB) e Luiza Erundina (PT), organizado pela Folha e pela TV Cultura.
Por exigência do candidato do PPB, os jornalistas só puderam fazer uma pergunta a cada candidato. E, se a resposta fosse considerada insatisfatória, o jornalista não teria direito a réplica ou a novos esclarecimentos.
Dentro das limitações, os candidatos não chegaram a apresentar novidades significativas à campanha. Temas já previstos como o PAS, as dívidas da administração Maluf ou o grande número de servidores da gestão Erundina estiveram presentes, mas sem o devido esclarecimento.
A novidade veio de Erundina, que inseriu na campanha o acidente com o avião da TAM ao perguntar a Pitta sobre a posição da atual administração em relação ao aeroporto de Congonhas. Mas, apesar de novo, o tema foi, no mínimo, inoportuno. A candidata optou pela infeliz decisão de utilizar politicamente uma tragédia que comoveu a cidade de São Paulo.
A rigidez das regras limitou muito as possibilidades do evento. Esta Folha empenhou-se em co-patrociná-lo porque lhe parece melhor um debate, mesmo em condições insatisfatórias, do que não fazer nenhum.
O resultado mostrou que as condições em que são feitos debates eleitorais no Brasil ainda são frágeis em matéria de transparência e informação ao eleitor. O empenho dos líderes das pesquisas continua sendo menos no sentido de esclarecer o público e muito mais no de não errar, para não ver ameaçada a liderança de que desfrutam no momento.

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