São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Os parentes de Sinatra

CARLOS HEITOR CONY

Gênova - Exceção feita ao Rio de Janeiro, as cidades portuárias não são bonitas. Bem verdade que a gente acaba esquecendo que Nova York, São Francisco e Nápoles são também portos importantes, mas a cidade tornou-se maior do que o cais -o que não acontece com Marselha, por exemplo, e principalmente com Gênova.
Seu principal habitante sentia isso, cismou que o mundo devia ter outros lugares onde pudesse aportar e foi assim que convenceu os reis da Espanha e descobriu a América. Outro genovês que ficou famoso foi um cara que inventou o baralho pornográfico -mas isso é outra história.
A cidade tem seus encantos -apesar do monstruoso porto que sempre foi uma das principais portas da Europa e continua sendo, apesar do avião e da Internet. Como prolongamento da costa azul francesa, ela se espalhou em platôs que são bonitos de olhar quando se está ao mar. Não muito longe estão Portofino, Santa Margarida e Rapallo -que são até mais sofisticados do que Monte Carlo; evidente que é uma questão de gosto e civilização.
Mesmo em seu perímetro urbano, não muito longe dos horrendos viadutos que enfeiam ainda mais o porto já feio, há o chamado "centro monumental", alguns quarteirões comuns a quase todas as cidades italianas e que falam de fenícios e gregos, da Idade Média, do "Rissorgimento" e da culinária que, ao lado da feiúra geral, faz parte da tradição das cidades portuárias.
Um dos melhores restaurantes do mundo está quase escondido num nicho da rua principal. É o Zeffirino, de uma família que tem orgulho de seus peixes e de uma cadeira onde o papa sentou para comer camarões. E da mesa que Frank Sinatra sempre usa quando vem à cidade -ele tem parentes espalhados pela Ligúria e volta e meia insiste em cantar "Il sole mio" com péssimo sotaque.
Apesar de tudo, Gênova é excelente passagem: ou para o resto da Itália ou para tomar um navio e partir. É o que vou fazer amanhã.

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