São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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Geração de Dole diz adeus ao poder

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A passagem definitiva do comando dos EUA da geração de veteranos da Segunda Guerra Mundial para os "baby-boomers" que serviram ou se opuseram à Guerra do Vietnã se consumou anteontem com a saída de Bob Dole do cenário político nacional.
Ele foi o último dos líderes norte-americanos nascidos entre 1908 e 1924, grupo do qual fizeram parte John Kennedy, Richard Nixon, Lyndon Johnson, Gerald Ford, Jimmy Carter, Ronald Reagan e George Bush. Mesmo nunca tendo chegado à Presidência, Dole foi um personagem essencial na vida política do país, em especial nos últimos dois anos, quando conseguiu controlar o radicalismo do presidente da Câmara, Newt Gingrich, e seus aliados da "revolução conservadora" e chegar a acordos com o presidente em assuntos muito relevantes.
Não há mais remanescentes da geração de Dole no primeiro plano da política norte-americana. Clinton, Gingrich, Al Gore, Jack Kemp, Trent Lott (substituto de Dole na liderança da maioria no Senado) nasceram todos após o início da Segunda Guerra Mundial. Uma geração, nascida entre 1925 e 1940, parece ter sido passada para trás sem que nenhum de seus representantes (Richard Lugar, Pete Wilson, Pat Buchanan e outros) tenha chegado à Casa Branca.
Clinton derrotou Dole. Mas não obteve a vitória que esperava, que lhe daria a legitimidade necessária para implementar qualquer programa político de impacto, se ele tivesse um na cabeça. É o primeiro democrata a ser reeleito desde Franklin Roosevelt, é verdade. Mas este teve 60,8% dos votos populares e arrastou consigo uma sólida maioria parlamentar em 1936.
Por seu lado, Clinton foi eleito com os votos de 24% dos eleitores do país e vai governar em minoria no Congresso. As pesquisas de boca-de-urna mostram que 57% de todos os que foram votar acham que ele não é uma pessoa honesta, e 60% acreditam que ele mentiu sobre sua participação no caso Whitewater e quanto a outras acusações feitas contra ele desde 1992.
O presidente vai poder, no entanto, pela primeira vez na vida agir sem os constrangimentos de tentar agradar eleitores para uma próxima votação. Não precisa mais fazer concessões para vencer um desafio futuro. Deixou de ter que provar sua "viabilidade política", expressão que tem usado desde a juventude para justificar decisões pragmáticas que foram contra seus professados ideais.
Seu segundo governo pode ser aquele em que a personalidade de Clinton se revele por completo. Como todos os que o antecederam na situação em que se encontra a partir de agora, vai administrar para a história, não para eleitores.
Com a notável exceção de Franklin Roosevelt, quase todos os outros 13 presidentes reeleitos tiveram segundos mandatos piores que os primeiros.
Clinton terá que mostrar o que de melhor há nele -a capacidade de empatizar com o próximo, o incrível poder de síntese- para não ser lembrado como o presidente mais acusado da história do país e para permitir aos historiadores a conclusão de que o primeiro líder da geração pós-Guerra estabeleceu um bom padrão para os seguintes.
(CELS)

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