São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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A DEMOCRACIA DE CLINTON

Sob os holofotes, triunfante, reelege-se presidente dos Estados Unidos o democrata Bill Clinton. Uma vitória que havia muito era prevista e quase tornou-se uma não-notícia. Mas há, na sombra da reeleição, uma série razoável de problemas e questões ainda sem resposta.
Em primeiro lugar estão certos aspectos que a oposição republicana e a imprensa norte-americana caracterizaram como "questões de caráter". Destaca-se o caso Whitewater, mas há também denúncias de manipulação ilegal ou ilícita de fundos de campanha e de utilização indevida de cadastros do FBI. Nunca um presidente dos EUA foi sujeito a tantas acusações de ordem pessoal.
Em segundo lugar estão alguns dados eleitorais significativos. O índice de abstenção foi o maior desde 1924. Em parte, reflete o natural desinteresse por uma eleição cujo resultado era tido como conhecido. Mas nem por isso deixa de ser um elemento que subtrai força ao presidente em termos de uma base política real.
Outro dado também relevante é o fato de que a maioria no Congresso norte-americano continua sendo republicana. Ou seja, os eleitores recusam-se a dar ao Partido Democrata um "cheque em branco".
É evidente que esse resultado contribui para um maior equilíbrio entre os Poderes Executivo e Legislativo. Ao mesmo tempo, entretanto, revela uma inclinação da sociedade norte-americana que se tornou ainda mais conservadora. Na prática, isso significa também que o próprio presidente cede e, por mudança de convicção ou marketing político, torna-se mais conservador que muitos republicanos. Mas, se é assim, o próprio bipartidarismo mostra-se limitado e, em termos de conteúdo, há uma homogeneização do discurso bastante discutível, de uma perspectiva autenticamente democrática.
Em resumo, as fanfarras que saúdam o triunfo de Clinton não bastam para abafar inteiramente os ruídos incômodos que se ouvem quando se vai além do mero placar eleitoral.

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