São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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Por que parou, parou por quê?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Paulo Godoy, presidente da Apeop (Associação Paulista de Obras Públicas), faz uma enorme ginástica semântica para explicar uma suposta (ou real) desaceleração nas obras da prefeitura paulistana.
Diz: "A prefeitura tocou muitas inaugurações e agora está tentando adequar seu cronograma à realidade financeira".
Fico imaginando um cidadão, com "papagaio" vencido no banco, apresentando-se ao gerente e argumentando: "Quero adequar meu cronograma à realidade financeira". Cola?
O secretário municipal de Finanças, José Antonio Freitas, como é natural, jura que está tudo bem com as finanças e as obras da prefeitura. Não é o que se vê a olho nu.
Qualquer cidadão que fosse obrigado a transitar, até o final de setembro, pelas obras espalhadas por Paulo Maluf veria que se trabalhava em três turnos.
Pelo menos é o que ocorria nas obras do chamado Complexo Viário Ayrton Senna, no Ibirapuera (zona Sul da cidade), meu caminho obrigatório.
Amigos me dizem que era assim também em várias outras obras.
Qualquer dono de botequim sabe que o trabalho em três turnos custa mais. Mas, como o dinheiro é dele, sabe também que só convém adotar ritmo tão intenso se há retorno, ou seja, se, apesar dos custos adicionais, a receita igualmente aumenta.
No caso da prefeitura, não. O ritmo adicional era, simplesmente, para entregar o máximo possível de obras (de resto, de prioridade no mínimo discutível) antes do primeiro turno da eleição. Depois, poderia vir a desaceleração, até porque o fôlego financeiro estaria ou acabado ou reduzido. Tanto que, agora, já não se vê mais ninguém trabalhando e não porque a obra esteja totalmente concluída.
Em qualquer país mais ou menos sério do mundo só haveria uma qualificação para esse tipo de comportamento: escândalo. No Brasil, é "adequar o cronograma à realidade financeira".

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