São Paulo, sábado, 9 de novembro de 1996
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A CULTURA NA CONTRAMÃO

Preocupado com o que considera uma penetração muito fácil dos discos estrangeiros no mercado brasileiro, o ministro da Cultura, Francisco Weffort, manifestou recentemente seu desejo de buscar formas para proteger a produção musical nacional. Já existe até uma comissão ministerial que estuda medidas destinadas a combater essa suposta desigualdade de oportunidades.
A preocupação de Weffort, porém, parece padecer de um surpreendente anacronismo. Se nos anos 70 e 80 esse desequilíbrio era patente, no momento atual, diferentemente do que diagnostica o ministro, a música produzida no país já vem detendo boa fatia do mercado. Segundo dados da insuspeita Associação Brasileira dos Produtores de Discos, 72% dos discos vendidos no país são de música brasileira, e o tempo dedicado à difusão da produção nacional nas rádios vem aumentando consideravelmente.
Assim, além de se basear numa observação pouco atenta da realidade, o desejo de Weffort parece transitar numa região nebulosa em que não se distinguem claramente o que é uma desejável busca de igualdade de condições para competir e o que é puro protecionismo (quando não a indesejável reserva de mercado).
Desde meados dos anos 70, os EUA vêm promovendo alguns programas denominados de "ação afirmativa". Com eles pretende-se promover uma espécie de "discriminação às avessas", isto é, facilitar, por meios legais, a inserção social das minorias. Talvez por ter residido nos EUA durante dois anos, o ministro da Cultura esteja se mostrando excessivamente sensível a esse tipo de "discriminação", que, a rigor, quando aplicada ao mercado, caminha na contramão da história.
Como nos países do Primeiro Mundo, a tendência atual mais pronunciada das rádios brasileiras é a da segmentação. Ou seja: cada emissora vai assumindo pouco a pouco um perfil musical específico. E o ouvinte decide o que quer escutar.

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