São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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Mudanças nas faixas confundem

DA REPORTAGEM LOCAL

O governo alterou pelo menos cinco vezes a classificação toxicológica dos agrotóxicos desde 78, segundo estudo da advogada Letícia Rodrigues da Silva, do Grupo Interdisciplinar de Saúde e Agricultura do Rio Grande do Sul.
Para Reinaldo Skalicz, chefe do serviço do receituário agronômico da Secretaria da Agricultura do Paraná, as constantes mudanças na classificação minaram a credibilidade sobre os registros de agrotóxicos no país e confundiram os agricultores.
Como exemplo da confusão, Skalicz diz que o Solvirex, inseticida usado contra pulgões, com 100 g de princípio ativo (disulfoton) passou da faixa vermelha (extremamente tóxico) para a azul (medianamente tóxico).
Já o Solvirex com 50 g de princípio ativo, portanto menos concentrado, permaneceu na vermelha.
"É inexplicável. O produto mais perigoso, com 100 g de princípio ativo, ficou com faixa mais branda", afirma Skalicz.
300 mil intoxicações
As intoxicações no Brasil (300 mil/ano) representam 10% dos 3 milhões de casos estimados no mundo.
O dado para o Brasil é uma projeção, calculada com base nas 6.000 intoxicações por agrotóxicos notificadas em 93, último ano em que o Ministério da Saúde fez um levantamento do problema.
Segundo Alfredo Benatto, do Ministério da Saúde, o número levantado pelo governo naquele ano representa 2% do total de casos (300 mil). De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), para cada caso notificado, há outros 50 não-notificados.
Este ano, o ministério retomou o levantamento dos casos de intoxicação notificados por meio de um projeto piloto do Sistema Nacional de Vigilância de Populações Expostas a Agrotóxicos.
Nas cinco cidades pesquisadas em cinco Estados (BA, MG, SP, PR e RJ) apurou-se uma incidência de 7,2 casos por 100 mil habitantes.
O número é quase o dobro da incidência verificada em 93 (3,95 casos por 100 mil habitantes) e revela que a intoxicação por agrotóxicos é uma das principais endemias.
Outra pesquisa, realizada por meio de um convênio entre a Andef e a Unicamp, aponta que em 95 ocorreram 17.905 casos de intoxicação no Brasil, dos quais 3.770 ocasionados por praguicidas e produtos de uso domésticos.
Os acidentes com praguicidas cresceram 20,5% em relação a 94 (de 1.728 para 2.083).

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