São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
BC não sabe como reaver prejuízo com o Nacional
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O Banco Central anunciou ontem que ainda não sabe como transformar em dinheiro as ações que recebeu do Unibanco como pagamento da venda da parte boa do Banco Nacional.Ontem, foi decretada a liquidação da parte ruim do Nacional. No dia 18, a intervenção na instituição iria completar um ano. A liquidação é o momento do acerto de contas. O BC vai calcular os ativos que o Nacional tem em carteira e ver o que sobra para pagar os R$ 5,9 bilhões que o próprio BC injetou no banco com recursos do Proer (programa oficial de ajuda a bancos). Segundo o chefe do Depad (departamento do BC que cuida das intervenções), Francisco Munia, o Nacional recebeu R$ 900 milhões em ações do Unibanco para lhe transferir, basicamente, as agências e os bons clientes. As ações correspondem a 33% do capital da holding Unibanco e 16% do capital do próprio banco. "Essas ações não podem ser vendidas de uma hora para outra, pois o Unibanco poderia quebrar. Tudo tem de ser feito com concordância do Unibanco", disse. Garantia Ao fechar a venda da parte boa do Banco Nacional, o BC exibiu a transferência dessas ações do Unibanco como uma das principais garantias de que não teria prejuízo na transação. Por esse raciocínio, o valor obtido pela parte boa do banco serviria para cobrir o buraco da parte ruim, além das dívidas do Nacional junto ao Proer. Até hoje o BC não divulgou quando vencem os empréstimos feitos ao Nacional. Empréstimos do Proer a outros bancos, como o Econômico e o Banorte, já venceram sem pagamento e foram prorrogados pelo BC. O BC não é obrigado a informar o Senado sobre o negócio com o Nacional. Quando essa regra foi incluída no Proer, já havia sido realizada a venda ao Unibanco. Munia disse que o Unibanco ainda deve pagar outros R$ 300 milhões pela compra do Nacional, em um prazo de cinco anos. "Seguramente, vai haver um passivo a descoberto", disse Munia, sem revelar o valor. Passivo a descoberto significa prejuízo para o BC, que é praticamente o único credor da parte ruim do Nacional. A comissão de inquérito do BC que investigou as contas do Nacional estimou um passivo descoberto de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, segundo Munia. Segundo ele, o valor exato do prejuízo só será conhecido quando os créditos e dívidas forem calculados na ponta do lápis. Energética Além das ações e do crédito de R$ 300 milhões junto ao Unibanco, a parte ruim do Nacional possui também a Nacional Energética. Há dois meses, essa empresa foi colocada à venda por R$ 180 milhões, mas ninguém se interessou. O BC acredita que ela valha R$ 300 milhões, pois foram resolvidas pendências judiciais sobre a inundação de áreas indígenas e sobre a tarifa de energia elétrica. Munia disse que há ainda outros empréstimos feitos pelo Nacional que podem ser cobrados, além dos títulos podres que a instituição ofereceu como garantia para tomar recursos do Proer. Esses títulos têm valor de face de R$ 7,1 bilhões, mas o mercado só aceita comprá-los com desconto médio de 60%. Isto é, valem cerca de R$ 2,84 bilhões. Texto Anterior: Olacyr quer vender terras ao governo por R$ 486 mi Próximo Texto: Brasil é 6º em trabalho infantil, diz OIT Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |