São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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Garreta deve e não nega, mas só paga quando pode

DA REPORTAGEM LOCAL

Ele diz que não, mas sua presença -e que presença!- com certeza exerce efeito calmante sobre os credores. Para Valdemir Garreta, 32, tesoureiro do PT municipal e da campanha de Luiza Erundina, o importante é saber conversar.
Diariamente, das 9h às 23h, ele acomoda seus 140 kg em uma sala do comitê de Erundina e explica aos credores que pode demorar um pouco, mas o PT sempre paga.
Ontem, às 11h, ele já tinha sido procurado por umas 20 pessoas. "Uso a velha tática de deixar o cara desabafar primeiro", diz. "Já enfrentei de tudo, até credor dizendo que ia pôr faixa de protesto no comitê."
Às vezes, o credor resolve "desabafar" de madrugada ou no fim-de-semana. Então, telefona às 2h, 3h, ou o procura em casa às 8h de um domingo.
O tesoureiro diz que serve um cafezinho e conversa mais. Dono de humor especial, Garreta acha que as coisas sempre podem piorar. Por isso, não se afoba com as dificuldades.
"Quem está distante acha que somos burocratas, que só sabemos gastar. Na verdade, administramos pepinos", diz.
A campanha foi feita "a pão e água", segundo Garreta, que estima a dívida em R$ 1 milhão.
O que salva a lavoura são os contribuintes assíduos. Por exemplo, em um jantar na casa do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), venderam-se 400 convites, a R$ 150 cada. "Já alivia, mas o dinheiro aqui circula mais rápido do que a luz."
Ajudado por Paulo Sandroni, 56, Garreta, eleito tesoureiro em 1993, negocia todos os contratos, busca doações, quebra galhos e organiza a contabilidade. Seu salário, R$ 1,7 mil.
Recentemente, começou a fazer fisioterapia. No dia 3 de outubro, escorregou, segundo ele "num calombo do asfalto superfaturado do Maluf (Paulo Maluf, atual prefeito)", e fraturou a cabeça do úmero (osso do braço). Teve de ser operado.
Ano que vem, Garreta deixa a tesouraria do PT. "Vou cuidar da vida, estudar administração ou economia e emagrecer."

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