São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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Prefeitos de quatro capitais dão conselhos sobre trabalho e lazer a seus sucessores

DA REPORTAGEM LOCAL E DA AGÊNCIA FOLHA

Diz o ditado que se conselho fosse bom, não se dava, se vendia. Mesmo assim, quatro prefeitos de grandes cidades brasileiras, ouvidos pela Folha, aceitaram dar sugestões a seus sucessores, às vésperas do segundo turno das eleições municipais.
Ao contrário de seus pares de Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte, o prefeito paulistano Paulo Maluf apresentou a receita menos específica.
"Só tem uma, que vale para toda a vida. Acordar cedo, dormir tarde, trabalhar muito, tentar transformar os sonhos em realidade e os projetos em obras."
Exigir seriedade dos colaboradores também é fundamental, segundo Maluf. "Depois de quatro anos, sua consciência estará tranquila pois foi essa dezena de homens que realizou, não apenas você", explica o prefeito.
Essa divisão de responsabilidades e espírito de equipe é também a receita de Patrus Ananias, prefeito de Belo Horizonte.
"Dessa forma, os secretários compartilham não apenas os problemas que vivem nas suas pastas, mas também ficam sabendo das dificuldades como um todo."
Ananias recomenda, também, visitas às secretarias, onde o prefeito pode ter contato com funcionários envolvidos em projetos.
Já Tarso Genro, de Porto Alegre, acredita mais na descentralização. Segundo o prefeito, um dos de maior aprovação no país, vale a pena perder o que classifica de autoridade burocrática.
"Em compensação, você ganha mais autoridade política sobre a cidade. E, isso, um prefeito consegue organizando formas de controle direto sobre si mesmo."
Fugir da burocracia também é o caminho para Rafael Greca, prefeito de Curitiba. "Ela consegue matar qualquer boa idéia, sobretudo com um mandato de quatro anos", alerta.
Greca, aliás, dá uma receita muita pessoal para seu sucessor. Além de aconselhar ouvir as crianças sobre a cidade, recomenda um roteiro cultural e gastronômico para quebrar a rotina e encontrar soluções -das "empadinhas da Confeitaria Caruso" à recitais "da Camerata Antiqua".
Patrus Ananias é outro que indica conviver mais com a cidade, seja tomando cerveja no final do expediente, seja relaxando nas cachoeiras da Serra do Cipó, a cerca de 100 km da capital mineira, nos finais de semana.
Descanso, para Paulo Maluf, só existe "após 1º de janeiro", quando acontece a transferência de cargo para o sucessor.
"Mesmo, assim, não pretendo fazer muito. Só deixarei o Brasil por três dias para ir a Washington, para a posse de Bill Clinton", conta o prefeito.
Na tentativa, talvez, de amenizar a forte relação com seu candidato à sucessão paulistana, Maluf insiste em dizer que Celso Pitta terá "total liberdade" para governar o município "caso eleito".
"Se ele quiser continuar minhas obras, tudo bem. Se ele quiser tocar projetos próprios, estará livre para isso."
Maluf, porém, faz pelo menos uma sugestão para seu sucessor, que, segundo as projeções, será mesmo Pitta: repensar o atual gabinete do prefeito.
Uma das poucas heranças da administração anterior, de Luiza Erundina, que sobreviveu à fúria das realizações malufistas, o Palácio das Indústrias é bastante criticado pelo prefeito.
"O Ibirapuera (onde ficava o antigo gabinete), sem dúvida, era muito melhor. Tinha muito mais ambiente", afirma.
"Aquele prédio do centro da cidade deveria ser usado para um museu ou, até mesmo, para a Secretaria da Cultura", diz.

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