São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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Sesc traz estrelas da arte pública

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entre os dias 19 e 21 de novembro, o Sesc vai sediar o 2º Seminário Internacional de Arte Pública. Concebido como uma continuação do primeiro encontro, realizado há um ano, esta edição, intitulada "Tradição & Tradução", pretende mapear as manifestações de arte pública brasileira e colocá-las em sintonia com a tradição internacional.
O evento irá reunir uma impressionante lista dos mais expressivos curadores e pensadores da cultura contemporânea internacional.
A curadoria é da artista plástica Denise Milan, que defende a posição do artista como ativista, no novo milênio. Em entrevista exclusiva à Folha, Milan explica seu conceito de arte pública e antecipa o conteúdo do seminário.
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Folha - Qual o significado atual do conceito de arte pública?
Denise Milan - Arte pública é algo em transformação. Ela costumava ser relacionada à construção de monumentos, bustos em homenagem a uma determinada figura ou situação. Hoje, o conceito é justamente o oposto. Arte pública não segue mais essa hierarquia.
Ela fala da articulação das comunidades, ela requer a participação das pessoas. Ela funciona tanto como uma lente focada em um objeto quanto uma atividade efêmera, como uma manifestação de rua.
Ela não apenas articula o homem em relação ao homem, mas também coloca o homem em relação à natureza e a todos os elementos vivos. Essa nova definição de arte pública responde diretamente à mudança de milênio.
Folha - O que deverá acontecer nesse momento histórico?
Milan - As coisas se reconfiguram, assim como os papéis sociais. O artista, por exemplo, não deve se limitar a ser mero fazedor de objetos. Ele também tem agora uma função de fazedor de consciência.
Nesse seminário, quero convocar artistas para indagar o que seria nossa ancestralidade na virada do milênio. Devemos buscar uma ancestralidade transformada.
Folha - E o tema desse seminário, Tradição & Tradução?
Milan - Em várias discussões levantadas no primeiro seminário, sobretudo com o crítico Michael Brenson, percebemos que a arte pública brasileira ainda não possui um conceito que a configure. Nossas tradições não estão representadas como manifestações vivas. Existem nós que amarram a liberação do fluxo de nossa herança vital, humanitária.
Tudo que vira nó numa cultura leva à decadência. Então, sentimos a necessidade de mapear os aspectos que configuram a vitalidade da cultura brasileira, ouvindo diversas vozes que ecoam no Brasil, além de colocá-las em perspectiva, traduzindo-as em relação ao que se faz em outras partes do mundo.
O seminário pretende ser um grito inicial de vitalidade, de explosão.
Folha - Quais serão as vozes nacionais? Como elas se articulam às internacionais?
Milan - A idéia é realizar um fórum vivo de comunidades e países, cujas fronteiras se descristalizem. Apesar das diferenças, tentaremos encontrar um respeito único pela força humana.
Entre as vozes brasileiras, teremos o poeta José Paes Loureiro, do Pará, o artista Siron Franco, de Goiás, Brivaldo Campelo, que trabalha com Ariano Suassuna, em Pernambuco, além de Antonio Risério, da Bahia, que tem uma leitura interessantíssima e acredita que tradição é caos.
Alguns dos participantes internacionais eu conheci através de outros seminários de arte pública. Em setembro, em Chicago, estive no congresso "Re-Educating Cities", em que apresentei um projeto de praças públicas a ser realizado no Brasil.
Em outubro, em Lisboa, falei do meu trabalho de arte no metrô, feito na Estação Clínicas.
Folha - E quem são os convidados estrangeiros?
Milan - Convidamos pessoas como a fotógrafa e crítica sueca Marianne Strom, o sul-africano Glen Mashini, a inglesa Sandra Percival, o japonês Makato Murata, além da norte-americana Mary Jane Jacob, que é uma das grandes revolucionárias do conceito de arte pública do mundo.

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