São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996 |
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García Márquez lança seu livro-bomba
JOSÉ GERALDO COUTO
A obra reconstitui diversos sequestros de jornalistas e mulheres de políticos por narcotraficantes na Colômbia, em 1990, e chega ao Brasil depois de um estrondoso sucesso nos países de língua espanhola. Na Colômbia, 100 mil exemplares esgotaram-se em dois dias. Na Espanha, onde o livro foi lançado em meados do ano, já está na quarta edição. A Record aposta na repetição do sucesso no Brasil. Imprimiu uma primeira edição de 60 mil exemplares e espera vê-la esgotada antes do Natal, de acordo com a editora Luciana Villas-Boas. O livro anterior do escritor, "Do Amor e Outros Demônios", lançado no Brasil em agosto de 94, já vendeu 120 mil exemplares. Segundo Luciana Villas-Boas, a Record pagou a García Márquez um adiantamento de nada menos que US$ 250 mil pelos direitos de "Notícia de um Sequestro". "É a primeira tradução do livro a ser publicada", diz a editora. "Já existe uma edição norte-americana, mas em espanhol, destinada à população hispânica." Guerra do tráfico Não é difícil entender o interesse despertado pela nova obra de García Márquez. À parte a extrema habilidade narrativa do autor, o próprio tema do livro é explosivo. Trata-se de reconstituir em minúcia o dia-a-dia da guerra do tráfico de drogas na Colômbia de hoje. Em 1990, o país estava convulsionado por sequestros de jornalistas e de mulheres importantes da vida pública colombiana. Comandados pelo então chefão do tráfico, Pablo Escobar, esses crimes tinham um objetivo claro: forçar o governo colombiano a não extraditar para os EUA os líderes dos cartéis da droga. Escobar e seus comparsas sabiam que nos EUA, longe da corrupção e da impunidade colombianas, eles teriam de enfrentar penas duríssimas. O que os traficantes queriam era conquistar o estatuto de presos políticos (o cartel da droga seria considerado um "partido") e receber indulto por seus crimes, como havia acontecido com o movimento guerrilheiro M-19. García Márquez parte de um sequestro específico, o de sua amiga Maruja Pachón de Villamizar, então diretora da entidade estatal de cinema da Colômbia, e aos poucos o entrelaça com a história de outros três sequestros, formando um quadro vívido e multifacetado da dramática situação do país. O foco narrativo varia constantemente: ora acompanha o cotidiano dos cativeiros, ora se concentra nas negociações entre traficantes, governo e parentes das vítimas, ora se espraia para as repercussões na mídia e na vida dos colombianos. Vertente jornalística Não é a primeira vez que o colombiano Gabriel García Márquez, prêmio Nobel de literatura de 1982, resolve consagrar em livro sua vertente jornalística. No início dos anos 60 ele publicou o "Relato de um Náufrago", narrando em primeira pessoa a história real que lhe foi contada por um homem que naufragou no mar do Caribe e ficou dez dias à deriva sobre um bote. Apesar de ser um dos expoentes do chamado "realismo fantástico", o autor de "Cem Anos de Solidão" (1967) sempre manteve um pé no jornalismo, atividade em que iniciou sua carreira e que ainda exerce de modo intermitente. Texto Anterior: Manowar estréia em SP Próximo Texto: Reportagem vira ficção Índice |
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