São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996 |
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Cecília Meireles resgata paixão e poesia em Mário de Andrade
MARCELO REZENDE
Um pouco desse romance literário está em "Cecília e Mário", um volume com poesia, cartas e observações trocadas entre os dois autores lançado agora pela editora Nova Fronteira. No dia 28 de março de 1960, Cecília recebeu uma carta da Prefeitura do Distrito Federal (ainda o Rio de Janeiro), com um pedido: realizar uma antologia da poesia e prosa do escritor paulista Mário de Andrade, morto havia 15 anos. Apesar da vontade da poeta, o trabalho não ficou pronto para a efeméride e jamais foi publicado. Suas escolhas e estudos sobre os versos permaneceram, até agora, inéditos. Mas, como conta o professor e crítico literário Alfredo Bosi na apresentação do volume, esse é apenas o fim de uma história iniciada no final da década de 30, quando Cecília Meireles lê Mário de Andrade. E Mário lê Cecília. A obra contém então a antologia e o estudo dos versos realizado por Cecília (1901-1964), um pequeno apanhado da correspondência trocada entre os dois, uma análise de Mário de Andrade (1893-1964) do livro "Viagem", de Cecília, e, por fim, até uma lista dos dez melhores romances feita pelo escritor a pedido da "Revista Acadêmica", em 1938. No total, são 325 páginas que tentam aproximar o leitor do pequeno universo desses personagens. E nada é mais eficaz para isso do que uma correspondência íntima. Cada verso de Mário de Andrade a São Paulo se mistura à apresentação tímida, ou nem tanto, de Cecília: "Mário de Andrade: eu não sei si V. me conhece -como se diz no Carnaval-, mas isso não tem importância nenhuma", ela escreve em 30 de setembro de 1935. Cecília convida Mário para várias colaborações em revistas do período, como uma publicação sobre turismo que preferia "pessoas arianas" em suas páginas. Discutem dinheiro, os pagamentos atrasados, os amigos e a arte. Mas falam também -de maneira velada- do carinho e a atração entre uma poeta de religiosidade aflita e um escritor que sempre foi alvo de rumores por sua discreta (ou indefinida) sexualidade. "Cecília e Mário" estiveram, e isso é claro pelo que lemos, apaixonados, ainda que não da maneira mais comum, pois toda relação é mediada sempre pela literatura e admiração quase infantil. Assim, o livro é o espaço deixado, a brecha para que leitores curiosos possam penetrar no encantamento entre os dois. Livro: Cecília e Mário Autor: Cecília Meireles/Mário de Andrade Preço: não definido (325 págs.) Texto Anterior: Autor se vê no protagonista adolescente Próximo Texto: MACUMÂINA Índice |
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