São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Caretice faz filme gay com amargura

JACKSON ARAUJO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Logo no início, o filme "Loucas Noites de Batom" dá provas da caretice travestida de porra-louquice tão comum no cinema francês metido a moderno, jovem e polêmico.
Muitos personagens do filme se parecem com pessoas da vida real; aquelas que não queremos encontrar pela frente, como Adrien.
Depois de uma noitada, a caminho do trabalho, Adrien é um típico gay que se traveste de homem sério e bem-sucedido, como se essas qualidades não fossem possíveis num gay assumido de trinta e tantos anos. Em pleno anos 90, alimentar atitudes como essa é no mínimo ridículo e preconceituoso.
E o truque continua, quando Adrien apresenta Eva -a melhor amiga- como sua esposa a Alexandre, o heterossexual que não conhece nenhum gay.
O diretor parece bem deslumbrado com a possibilidade de mostrar o comportamento estereotipado dos gays.
Como numa visita ao zôo, Marie, a mulher de Alexandre, vai ao restaurante de Eva acompanhada de seu amante, para se divertir com os gays que frequentam o lugar.
Ao ver o marido na pista de dança, Marie acredita que ele é gay, como desculpa para a derrocada de seu casamento.
Nesta trama de traições e desamores, Eva introduz Alexandre no universo gay. Ele passa de vilão a melhor amigo dos gays, tranquilo em relação a sexualidade alheia.
Outro escorregão: o amigo gay é o pior amigo das mulheres. Adrien tem ciúme obsessivo de Eva e ilustra sua amargura com a máxima dos enrustidos: "Você é a mulher que eu queria ser".
E, assim, vai atrapalhando o romance da trágica Eva com Alexandre, até adotar seu filho e comprar um lugar no coração da amiga carente e mal-amada. Mas não é só isso -na cena final, papai Adrien piora tudo, ao dizer que não quer o filho brincando com batom, para não ser um futuro gay.

Filme: Loucas Noites de Batom
Produção: França, 1996
Direção: Gabriel Aghion
Com: Fanny Ardant, Richard Berry, Patrick Timsit, Jacques Gamblin e Michele Laroque
Cinema: Cinearte 1

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