São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996 |
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Aliança com o PFL é a receita de Pitta para Maluf conquistar a Presidência
CARLOS EDUARDO ALVES
O prefeito eleito de São Paulo, Celso Pitta (PPB), acredita que Paulo Maluf deve se inspirar na sua vitória na eleição paulistana e apostar em coligação com o PFL para disputar a Presidência. Para Pitta, a aliança dos dois partidos em São Paulo mostrou que há "ordenação" entre eles. "Nada impede que se repita em nível nacional uma coligação dessa natureza", diz Pitta. O prefeito eleito entende que o acordo com os pefelistas é a maneira certa de Maluf suprir a desproporção entre seu peso em São Paulo e nos outros Estados. Pitta não considera uma certeza a manutenção da aliança entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o PFL, mesmo que a emenda da reeleição seja aprovada. Diz que o cenário econômico pode atrapalhar o plano de FHC de ganhar novo mandato. O vitorioso de ontem na eleição de São Paulo é dúbio sobre a reeleição. Declara-se a favor da tese, até para os atuais detentores de mandato, mas enxerga na movimentação governista a intenção única de dar mais tempo para FHC no Palácio do Planalto. "O jeitão que se coloca hoje (a tese) é que ela está direcionada para a reeleição do presidente Fernando Henrique", afirma. Pitta declara ainda que descarta a submissão a Maluf e, também, a possibilidade de trair seu padrinho político. O polêmico projeto do "Fura-Fila" terá prioridade no início de sua administração. Segundo o prefeito eleito, o empresário Calim Eid, a eminência parda do malufismo, não terá influência em seu governo. A seguir, os principais trechos da entrevista de Pitta à Folha: * Folha - O que significou a vitória do sr. em São Paulo? Celso Pitta - Vai ter um significado especial porque rompeu muitas situações que eram consideradas intransponíveis. O Paulo Maluf vai fazer o seu sucessor, contrariando uma tradição. Depois, uma pessoa fora do mundo político é bem-sucedida. Em terceiro lugar, a vitória ganha importância por eu ser da raça negra, o que dá a essa eleição uma valorização à comunidade negra. Por fim, o resultado mostrou que um não-paulistano pode ser eleito prefeito. A candidata Erundina também já foi eleita prefeita não tendo nascido aqui, mas particularmente comigo, por ter nascido no Rio de Janeiro, desmistifica-se também aquela folclórica rivalidade entre paulistas e cariocas. Folha - Em termos políticos, a vitória do sr. na maior cidade do país altera a correlação partidária no país? Pitta - Fortalece muito o PPB e a nossa liderança, o prefeito Paulo Maluf, que terá mais um dado para o seu já auspicioso cacife político. Folha - O sr. concorda que, apesar da vitória em São Paulo, o PPB tem dificuldades no país, o que impediria planos do prefeito Maluf para o futuro? Pitta - Nós iniciamos em São Paulo uma bem-sucedida coligação com o PFL. Nada impede que se repita em nível nacional uma coligação dessa natureza. O PPB demonstrou, junto com o PFL, ter uma unidade, uma ordenação, uma aliança que pode se repetir em outras situações. Folha - Mas o PFL já anunciou que a aliança dele é com Fernando Henrique Cardoso... Pitta - Até 98, temos muita coisa ainda para definir. O cenário para 98 depende fundamentalmente da questão reeleição, da situação econômica do país. Até lá, o que é válido hoje pode não ser para o futuro. Folha - Então, o sr. acha que uma das maneiras que Maluf tem para crescer em outros Estados seria uma aliança com o PFL? Pitta - Ou com outros partidos. A prática demonstrou que pode ser explorada a vertente de alianças políticas. Folha - O destino político do prefeito Paulo Maluf está amarrado ao desempenho que o sr. terá na prefeitura? Pitta - Eu acho que independe. O prefeito Maluf, pelo bom trabalho que fez na prefeitura e todo o seu passado político, já tem o respaldo necessário para o prosseguimento da sua carreira política. Concordo que uma bem-sucedida administração vai favorecer esse cacife político. Mas não é condição "sine qua non". Folha - O caminho mais viável para o prefeito Maluf seria disputar a Presidência da República ou o governo estadual? Pitta - É uma decisão que lhe cabe. Pelo que conheço, ele já tem todas as condições para o exercício da Presidência da República com sucesso. São 30 anos de vida pública; ocupou cargos de governador, prefeito e deputado federal. É uma pessoa que tem trânsito nacional e internacional, e acredito que o Brasil lucraria muito em ter Paulo Maluf como presidente da República. Folha - O sr. acha que a aprovação da emenda que permite ao presidente disputar a reeleição garante automaticamente um novo mandato para ele? Pitta - Eu vejo a tese da reeleição como sendo necessária para um debate, se colocada para presidente, governadores e prefeitos. Nesse contexto, sou a favor, inclusive para os atuais ocupantes de cargo, porque a qualquer momento vai ter sempre um presidente, um governador e um prefeito. O que discordo é que a questão da reeleição seja direcionada unicamente para satisfação de um desejo da reeleição do presidente da República. Isso é incorreto. O jeitão que se coloca hoje é que ela está direcionada para a reeleição do presidente Fernando Henrique. Folha - Os exemplos recentes da América do Sul apontam que presidente que doma a inflação tende a ganhar novo mandato. Vale para FHC? Pitta - É exercício de futurologia para 98. É claro que, se aprovada a reeleição, o conceito irá favorecer o atual presidente. Mas irá favorecer se o cenário em 98 for tão favorável quanto é em 96. Mas é difícil hoje você desenhar qual o cenário de 98. Qual será o quadro da economia, da situação de desemprego, de comércio internacional, de déficit público? Folha - Então o sr. não concorda que domar a inflação basta para ganhar novo mandato? Pitta - Eu acredito que a sociedade já retribuiu ao presidente Fernando Henrique, com a sua eleição, o fato de ele ter domado a inflação e introduzido o Plano Real. O país está querendo mais que a estabilidade monetária. É esse algo mais que vai definir o cenário de 98. Folha - Pode-se concluir, então, que, se a reeleição passar, o prefeito Maluf não vai obrigatoriamente ter de disputar o governo paulista em 98? Pitta - Vou fazer uma avaliação pessoal. Independentemente de a reeleição ser ou não aprovada, o prefeito Paulo Maluf tem todas as condições favoráveis para disputar a Presidência da República. Folha - É indiscutível que, pelo menos no início do governo, o sr. vai ter como "sombra" a presença do prefeito Maluf. Como vai fixar uma imagem própria? Pitta - A imprensa me arma um corredor muito estreito entre duas paredes. Uma é essa de ser considerada uma pessoa dirigida ou teleguiada pelo prefeito Paulo Maluf. A outra parede, que é a situação oposta a essa, é que vou traí-lo e, portanto, não mereço a confiança. Inexistem essas duas situações. Terei sempre por parte do prefeito Maluf um amigo, uma pessoa da qual espero receber aconselhamentos, boas idéias. Mas a idéia de ser dirigido ou desleal a ele está fora de cogitação. Folha - Qual o critério para a formação do secretariado? Pitta - É simples. Vamos nomear o gabinete de forma a garantir a continuidade da administração Paulo Maluf. A continuidade envolve necessariamente a manutenção em postos fundamentais dos atuais ocupantes. Folha - Até quando o sr. pretende definir o secretariado? Pitta - Eu embarco sábado para um período de descanso de duas semanas, volto na primeira semana de dezembro e aí vou tratar disso. Folha - Em algum ponto o sr. pretende dar um direcionamento diferente à administração, em comparação à de Maluf? Pitta - A administração Maluf caracterizou-se por, em quatro anos, fazer um trabalho que deveria ter sido feito em oito, em investimentos de infra-estrutura. Recuperamos o tempo perdido. O que é possível fazer é uma melhor divisão de recursos, em investimentos de infra-estrutura e investimentos sociais. Privilegiar a área de habitação, transporte público e educação é o vetor de esforço, mas não é contraposição à administração anterior. É resultado da administração anterior, que compensou todo o tempo perdido. Folha - Até entre pepebistas, há preocupação sobre a possibilidade de o PAS transformar-se na CMTC do Pitta, pelo custo do plano. Pitta - A cidade de São Paulo é o terceiro maior orçamento do país. Saúde será a prioridade de nossa administração. O PAS é um programa muito bem-sucedido e aprovado por 83% da população. Como já temos a parte de investimento em infra-estrutura satisfeita, existe uma certa disponibilidade para reforçar a área de investimento social, onde se inclui o setor de saúde. Não será uma nova CMTC. Folha - Quais os planos imediatos na prefeitura? Pitta - Quero dar partida logo na implantação do "Fura-Fila" e apressar, na medida do possível, a emenda constitucional que transfere a segurança pública para a prefeitura. Folha - Qual o papel que o empresário Calim Eid terá em seu governo? Pitta - Nenhum. O Calim Eid é um amigo, tenho um conceito muito bom dele, mas não terá nenhuma influência. Estou aberto a idéias, não só do prefeito Paulo Maluf, mas das pessoas do partido que queiram me dar boas idéias. O Calim é como outro qualquer pepebista. Tenho relações cordiais com ele, não próximas. Texto Anterior: Prefeito paulistano é discreto, pouco marcante e tido como competente Próximo Texto: Governo e aliados vencem na metade das cidades onde disputaram 2º turno Índice |
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