São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Milícia incitou genocídio tutsi

MARY BRAID
DO "THE INDEPENDENT"

A milícia Interahamwe, "aqueles que ficam juntos", foi criada pela elite da etnia hutu que governava Ruanda antes da derrota na guerra civil.
O grupo extremista incitou a maioria hutu -cerca de 85% da população- a promover o extermínio sistemático de homens, mulheres e crianças tutsis.
Aqueles que se depararam com eles, exibindo facões nos três meses de matança em 1994, ou depois, quando lideraram o êxodo de hutus para o Zaire e assumiram o controle dos campos de refugiados, comparam sua atuação com a dos nazistas.
Assim como os nazistas usaram propaganda contra judeus, o Interahamwe promoveu uma campanha contra os tutsis.
Sob a dominação colonial da Bélgica, os tutsis eram a elite. Os membros da maioria hutu eram relevados à condição de cidadãos de segunda classe.
Os hutus tomaram o poder antes da independência, ocorrida em 1959, matando dezenas de milhares de tutsis. Muitos deles fugiram para Uganda, e os que ficaram eram vítimas frequentes de intimidação.
A Frente Patriótica de Ruanda, formada por exilados tutsis, lutou pela derrubada do governo de Ruanda a partir de 1990. Em 1994, um acordo foi rascunhado, mas o governo hutu, aparentemente, fazia um jogo duplo.
O Interahamwe se fortalecia e as emissoras de rádio do país emitiam mensagens de ódio. Advertiam que os tutsis, ou "baratas", estavam conspirando para escravizar os hutus mais uma vez.
Na noite em que o genocídio começou, desencadeado pela morte do presidente hutu Juvenal Habyarimana em um acidente aéreo, uma emissora de rádio de Kigali afirmou que "tutsis precisavam ser mortos". O Interahamwe entrou em ação.
No exílio, as milícias hutus transformaram os campos de refugiados em bases militares de onde atacavam Ruanda. Cobravam impostos dos refugiados para comprar armas.
Muitos dos que tentaram ignorar suas advertências de que sofreriam a vingança dos tutsis se voltassem a Ruanda foram linchados.
Estima-se que o Interahamwe seja formado por até 70 mil homens, incluindo os membros do antigo Exército de Ruanda. A maioria responderia a acusações de genocídio se retornasse ao país.

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