São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Ataque causa volta de 700 mil a Ruanda

Refugiados deixam Zaire

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Cerca de 700 mil refugiados hutus de Ruanda deixaram os campos em que estavam há mais de dois anos no leste do Zaire para voltar ao país de origem.
O êxodo em massa ocorreu depois que uma aliança de rebeldes do Zaire (inclusive os tutsis banyamulenges) atacou os campos de refugiados em Mugunga.
Com esse ataque, os membros da milícia hutu (acusados de genocídio em Ruanda) fugiram em direção à floresta no oeste.
Os milicianos (alguns deles ex-soldados de Ruanda quando os hutus estavam no poder no país) eram espécies de líderes do grupo de hutus, espalhando entre eles o medo de retornar a Ruanda.
Ruanda tem hoje um governo da etnia rival, tutsi, que poderia perseguir os hutus pela morte de mais de 1 milhão de tutsis na guerra civil de 1994. Na época, os hutus, derrotados, seguiram a ordem dos milicianos e fugiram para o Zaire.
Mudança
Mas, dessa vez, os refugiados não seguiram mais a milícia hutu. "Eles queriam que nós fôssemos com eles, mas nós decidimos retornar para casa", disse o refugiado hutu Laurenti Nzainok.
No caminho para Goma, 13 corpos continuavam no chão. Eles podem ter sido vítimas dos tutsis, que promovem ofensiva na região, ou dos milicianos hutus, que impediam o retorno dos refugiados.
Testemunhas disseram que os tutsis continuavam a atacar Mugunga. O ataque dos tutsis teria sido decidido depois da divulgação de um projeto de resolução da ONU que dizia que a força multinacional para a região não iria desarmar os milicianos hutus.
Pelo menos 10 mil pessoas já tinham cruzado a fronteira, segundo a ONU. Os refugiados seguiam numa estrada de mais de 10 km no ritmo de 30 mil pessoas por hora.
Eles deixavam os campos de Mugunga 1 e 2, que juntos formavam antes a maior aglomeração de refugiados do mundo. Havia agora apenas ratos e corpos nos campos.
"Encontramos em uma área 26 corpos, todos de crianças ou mulheres, golpeados com facão, com as cabeças abertas", disse o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Ray Wilkinson. "Os campos estão desertos, sendo ocupados pelos ratos."
Fome
Além da fuga dos milicianos, outros motivos que levaram os hutus de volta a Ruanda foram a fome, o cansaço e a perda humana.
Durante dois anos, a ONU havia tentado persuadi-los a voltar. O Zaire também havia ameaçado expulsá-los várias vezes.
A comunidade internacional elogiou a decisão dos refugiados. O Ocidente queria acabar com os campos de refugiados, mas não queria se envolver na tarefa.
Mostrando ainda a natureza volátil da região, o Zaire ameaçou ontem entrar em guerra com Burundi e Ruanda. Os zairenses acusam os dois países de estarem envolvidos na ofensiva dos tutsis.

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