São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996 |
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BILHÕES NO LIMBO O reconhecimento tardio de que o socorro ao Banco Nacional causará prejuízo aos cofres públicos mostra mais uma vez a falta de transparência das operações de salvamento de instituições financeiras. Desde o lançamento do Proer, o governo vinha declarando -sem convencer, é verdade- que o programa estava utilizando recursos dos próprios bancos e, portanto, não onerava o Tesouro. Anteontem, o chefe do departamento do BC que administra as intervenções reconheceu que, "seguramente, vai haver um passivo a descoberto", que a comissão de inquérito do BC estima entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões. Analistas privados chegam a números ainda maiores. A responsabilidade de abortar eventual crise de confiança e evitar especulações impôs que o BC preparasse com sigilo as intervenções em instituições financeiras com problemas graves. Mas, depois de efetivadas as operações, não é admissível que as autoridades mantenham a opinião pública desinformada. Em face das quantias bilionárias envolvidas e dos indícios de fraude encontrados pelo interventor do BC no Nacional, passa a ser obrigação das autoridades monetárias fornecer informações claras e precisas sobre o que ocorreu. Os cidadãos têm o direito de ser informados sobre os custos e consequências da operação. E, se os valores definitivos só serão precisamente conhecidos futuramente, que se divulguem desde logo as estimativas do prejuízo. Tampouco recebeu a devida transparência o fato de que o BC recebeu ações do Unibanco como pagamento pelas agências e pela melhor parte da clientela do Nacional. O fato só agora ganhou importância no noticiário, pois, como seria previsível, o governo depara-se com dificuldades para transformá-las em dinheiro, visto que seu valor cairia fortemente caso fizesse uma venda maciça. Se agiu bem ao evitar uma crise bancária, no que toca à transparência e aos esforços para recuperar o dinheiro eventualmente desviado pelas fraudes o governo até agora saiu-se muito mal. São bilhões ainda perdidos no limbo de informações fragmentárias e obscuras tecnicalidades. Texto Anterior: A DÍVIDA DE PITTA Próximo Texto: CRIANÇAS DO CINEMA Índice |
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