São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996 |
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CRIANÇAS DO CINEMA O cinema brasileiro voltou novamente seus olhos às crianças do país, mais especificamente às que, envolvidas por um ambiente de miséria e violência, terminam por se associar ao mundo fora da lei. Desde que "Pixote", de Hector Babenco, colocou em foco a história de um garoto das ruas que passa a conviver com o crime, o problema da infância brasileira ganhou maior alcance, passou a ser de conhecimento internacional, mas nem por isso chegou perto de uma solução. Simultaneamente à volta de "Pixote" a um cinema da capital paulista, outros dois filmes brasileiros do momento, "Quem Matou Pixote?" e "Como Nascem os Anjos", tocam o problema com realismo. O primeiro conta a trajetória do garoto Fernando Ramos da Silva, estrela do filme de Babenco, morto por policiais. "Como Nascem os Anjos" traz um roteiro mais do que verossímil para um país onde a pobreza e a omissão do poder público deixam a população carente à mercê dos seus próprios tiroteios. No filme, duas crianças -uma menina de sonhos modestos e um garoto de esperanças representadas pela mochila escolar que carrega nas costas- vêem-se transformadas por acaso em pequenos bandidos, ao mesmo tempo seduzidas e intimidadas pelo assustador poder que o porte de uma arma de fogo pode proporcionar. Mas muitas vezes interesses aliados à violência real tentam conter a ficção para anular sua força. Os três policiais militares condenados pela morte de Fernando Ramos da Silva, em 1987, solicitaram na Justiça a proibição de "Quem Matou Pixote?". Tentam aplicar um novo e absurdo ato de violência por meio do inconstitucional e inaceitável artifício da censura. Os problemas retratados pelos filmes se multiplicam entre as brechas proporcionadas pela desordem social. Grande mérito tem a cultura brasileira ao não ignorá-los, ao levar a milhares de espectadores, por meio das crianças do cinema, o drama das crianças de verdade. Texto Anterior: BILHÕES NO LIMBO Próximo Texto: O anti-Maluf Índice |
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