São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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O anti-Maluf

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - São Paulo elegeu ontem um mero continuador de Paulo Maluf, certo? Errado. São Paulo elegeu ontem o exato oposto de Paulo Maluf.
O prefeito paulistano é homem que desperta amores e ódios quase com a mesma intensidade. É difícil, quase impossível, ficar indiferente a ele, suas posições políticas ou ações administrativas.
Em relação a Celso Pitta, o difícil é esconder um bocejo de profundo tédio cada vez que fala.
Sua campanha limitou-se a empilhar uma obviedade sobre a outra, um lugar-comum sobre o outro. Que não tenha sido capaz de produzir uma única frase que soasse inovadora, criativa, instigante, ainda vá lá. Não é o único nem é caso raro no ambiente político.
Sintomático, no entanto, é o fato de que não conseguiu nem sequer ser polêmico ou pelo menos folclórico, o que é uma proeza extraordinária em campanhas eleitorais de longa duração como são as brasileiras.
Pitta não parecia estar em uma campanha eleitoral e, sim, disputando um concurso público para postos burocráticos. Com toda a emoção decorrente.
Em parte por isso (e, certamente, em grande medida pela percepção generalizada de que já estava eleito), ontem foi o mais desanimado dia de votação que já vi na vida (e olhe, leitor, que já vi mais eleições, em várias partes do mundo, do que o Ministério da Saúde recomenda).
Dizem que São Paulo elegeu um gerente. Ótimo. Bem que a cidade precisa de gente com esse perfil também. Mas é abissalmente insuficiente para qualquer ocupante de cargo público, mais ainda em uma cidade com as dimensões e os problemas de São Paulo.
Os paulistanos ficam, agora, obrigados a torcer pela reeleição para que ela valha não só para o presidente, mas também para prefeitos. Pelo que mostrou na campanha, Pitta vai precisar de oito anos para aprender a ser mais do que gerente.

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