São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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A bandeira nacional da qualidade

LUÍS NASSIF

No início de janeiro, um decreto do presidente da República irá relançar oficialmente o Programa de Qualidade no Setor Público -processo iniciado no governo Collor e interrompido com o impeachment.
O decreto mudará a composição do Conselho Nacional de Qualidade, e visará estender os conceitos de qualidade para todo o setor público.
Ao reintroduzir a qualidade total na área federal, o ministro da Administração e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, poderá proporcionar salto expressivo naquele que é o mais importante movimento de mudança de padrão cultural em vigor no país -e há tempos bandeira preferencial da coluna.
Na semana passada, mil coordenadores de programas de qualidade de todo o país se reuniram em São Paulo com o guru do processo -o professor Vicente Falconi Campos, da Fundação Cristiano Ottoni (ligada à Escola de Engenharia da UFMG) para um balanço das atividades.
Setor público
Gradativamente, o setor público começa a ocupar espaços cada vez maiores nesses seminários. O exemplo do Rio Grande do Sul -Estado pioneiro em programas de qualidade- começa a se estender por Estados e governadores nunca dantes imaginados.
Nos últimos meses, José Fernando César de Mattos, o secretário-executivo do Programa Qualidade na Administração Pública do Rio Grande -figura de proa no movimento- passou por vários gabinetes estaduais e foi bater na sala do governador pernambucano, Miguel Arraes. O velho sertanejo ouviu a exposição sem esboçar uma reação. Mattos julgou que a pregação tinha sido em vão.
Ao final da exposição, Arraes só fez um comentário: "Precisamos continuar conspirando nessa direção". Nos próximos dias reunirá seis secretários de seu governo para iniciar o programa em seu Estado.
Não fica nisso. No próximo dia 20, 15 prefeitos e 180 vereadores da média paranapanema estarão reunidos discutindo qualidade. No dia 24, 400 prefeitos gaúchos se juntarão no Congresso com o Programa de Qualidade na Administração Municipal do Estado, para serem municiados dos instrumentos de planejamento do programa.
No dia 28, em Brasília, haverá encontro de avaliação de 18 programas estaduais de qualidade. No dia 5 de dezembro, o Ministério da Administração dá início aos cursos dentro do Programa de Qualidade e Produtividade no Serviço Público. E, no início de 97, haverá o salto do reconhecimento oficial da Qualidade Total como instrumento gerencial do novo país que está se formando.
Método
Esse método foi desenvolvido no Japão, no pós-guerra, e se transformou no principal responsável pelo milagre econômico nacional.
Trata-se de um sistema de planejamento voltado para a qualidade, que tem seu foco no atendimento ao consumidor e incorpora várias técnicas de fácil assimilação pelo conjunto de pessoas envolvidas com o trabalho.
Os feitos desse programa são extraordinários. No plano público, ajudou a desenvolver o maior projeto educacional brasileiro: o novo modelo de escola pública em Minas Gerais. No plano privado, ajudou a alcear três empresas nacionais à relação das cem empresas mais eficientes do mundo.
No setor público, o programa será eficiente para ajudar a criar indicadores -permitindo o controle da opinião pública- e metas, que permitirão aprimorar o serviço público.
Mosconi
Ao assumir a presidência da República, Itamar Franco convidou o ex-deputado e médico-cirurgião Carlos Mosconi para presidir o Inamps. Mosconi tinha um consultório que lhe rendia US$ 7.000 mensais. No Inamps, iria receber US$ 1.500. Aceitou, com a condição de poder se deslocar às sextas-feiras para sua cidade, e continuar operando.
Como nos fins-de-semana continuava dando expediente como presidente do Inamps, colocou a secretária do consultório na folha do órgão.
Foi sua única indicação.
Nos meses seguintes, fechou o Inamps -e, com isso, a possibilidade de indicar pessoas para cargos políticos dos mais cobiçados, os de administradores regionais do órgão, com o controle sobre verbas bilionárias.
O fato de ter aberto mão de controlar esse curral político cobiçado e verbas bilionárias raramente é lembrado. O que importa são os R$ 700 da secretária, notícia à qual recorre periodicamente a burocracia brasiliense para, valendo-se da falta de memória da imprensa, impedir qualquer tentativa de transferir poder para os municípios.

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