São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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Peixes desaparecem do litoral fluminense

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Os registros das colônias de pescadores da região metropolitana do Rio indicam que nos últimos dez anos ocorreu um violento decréscimo da quantidade de peixes, camarões, mariscos e crustáceos capturados no litoral fluminense.
Um dos exemplos mais evidentes da decadência pesqueira no Rio de Janeiro pode ser notado em Itaipu, praia despoluída e de mar aberto no município de Niterói (a 15 km do Rio).
No inverno de 1986, os pescadores de Itaipu retiraram do mar cerca de 30 toneladas de tainha. No inverno deste ano, foram pescados apenas 800 kg do peixe.
"Hoje não se pesca nem 10% do que se pescava. Algumas espécies já desapareceram, como cavala, cavalinha e peixe-porco", disse à Folha o presidente da colônia de Itaipu, Jorge Nunes de Souza, 41.
A diminuição de peixes é creditada pela colônia à ação predatória de pescadores clandestinos.
Segundo Souza, esses pescadores usam dinamite e redes de arrasto, que raspam o fundo do mar, dizimando as espécies.
Nas praisas poluídas no fundo da baía de Guanabara, a situação dos que vivem da pesca é ainda mais delicada.
Camarão gigante
Os pescadores da colônia da praia de Mauá (município de Magé, a 60 km do Rio) esperavam para outubro o início do período dos camarões gigantes.
"Todo mundo pensava que o camarão salvaria a festa de fim de ano. Mas ele simplesmente não veio", disse o presidente da colônia de Mauá, Luiz Fernando Franco Lima, 39.
A colônia de pescadores da zona sul, sediada no posto seis da praia de Copacabana, reúne cerca de mil pescadores que trabalham da Urca ao Recreio dos Bandeirantes.
A pesca predatória também é apontada por eles como a causa da diminuição da quantidade de peixes capturados na orla da zona sul.
"Hoje só tem peixe miúdo. Não tem mais tainha, a corvina está diminuindo, a pescada também", afirmou o pescador Antônio Rodrigues de Oliveira, 29, o Juruna.
Há cinco anos, em Sepetiba, praia na zona oeste carioca, a média era de cinco toneladas de camarão pescadas por mês.
Hoje, a colônia de Sepetiba recolhe em praias tomadas por lama e lodo não mais do que 300 kg mensais de camarão.
Pesca artesanal
Os profissionais agrupados em colônias praticam a pesca artesanal, com redes, linhas, currais de bambu e pequenos barcos, geralmente impulsionados a remadas.
A pesca artesanal é uma tradição, passada de pai para filho, ao longo de décadas. Os pescadores do fundo da baía de Guanabara se valem do mesmo sistema de currais com que seus antepassados trabalhavam no século 19.
Responsáveis pela pesca predatória, os clandestinos usam barcos a motor que vasculham o fundo do mar com redes de malha fina.
A rede traz para a superfície todas as espécies existentes. Os pescadores aproveitam os pescados nobres e devolvem ao mar, mortos, os de pouco valor comercial.
A pesca com explosivos é tão nociva quanto o "arrastão de fundo". Ao explodir, a dinamite mata todos os peixes da área, que bóiam. Os clandestinos escolhem os melhores e abandonam o resto.

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