São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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O ESPORTE A PERIGO

A morte de um garoto de 12 anos em corrida de kart no último dia 10 enseja uma reflexão sobre a entrada cada vez mais precoce dos jovens no mundo dos esportes competitivos e sobre o elevado desgaste -não apenas físico, mas sobretudo psicológico- a que estão sujeitos.
Um caso mais notório é o da tenista norte-americana Jennifer Capriati. Ainda adolescente, foi alçada ao estrelato do tênis mundial. Mas aos poucos se distanciou do circuito internacional, até abandonar temporariamente a carreira. Adotou um comportamento rebelde, envolvida com drogas e furtos, para depois tentar retomar o esporte.
O futebol é igualmente pródigo de exemplos de atletas que, sob forte pressão das torcidas e dos clubes, não mantiveram o desempenho promissor que o início de suas carreiras prenunciava. Não são poucos os casos recentes de jogadores que sucumbiram em face das expectativas de que eles perpetuassem uma linhagem de Pelés pelos campos afora ou que não assimilaram a notoriedade.
Além disso, a participação em competições de kart no Brasil, por exemplo, é permitida a quem tem ao menos 8 anos, enquanto que nos outros países o limite é de 12 anos.
Esses casos apenas explicitam o que já deveria ser uma obviedade: um atleta não é um simples agregado muscular, com um adestramento específico. Traz consigo uma estrutura emocional e repertório de experiências pessoais que naturalmente interferem em seu desempenho.
Mas, diferentemente do que ocorre nos centros em que o esporte efetivamente se profissionalizou, o acompanhamento psicológico dos atletas no Brasil ainda é considerado atividade desnecessária. Em larga medida, trata-se o profissional como uma máquina de produzir bons placares. O que deveria ser fonte de prazer se torna assim exposição à dor.

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