São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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Baita furo

RUI NOGUEIRA

Brasília - Da Presidência da República aos gabinetes militares, passando pela comissão do Sivam, pela Secretaria de Assuntos Estratégicos e pelo IBGE, outro buraco na Amazônia preocupa bem mais do que o da camada de ozônio.
A menos de um lustro do terceiro milênio, a Amazônia brasileira tem 1,5 milhão de km2 que são um grande buraco cartográfico. Trocando em miúdos: não há, sobre essa imensidão de terra -mais que um Bolívia inteira-, um só mapa topográfico. Existe aquele mapa, na escala de 1 por 1 milhão, ou acima disso, que as repartições públicas, escolas e escritórios pregam nas paredes.
Esse é um traço tosco para dar a idéia didática da nossa fronteira e do tamanho do país. Para tomar decisões técnicas acuradas, é preciso ter mapas topográficos, feitos na escala 1 por 50 mil, e abaixo disso, que apresentam cada curva do relevo, rio, riacho, tipo de mata etc. O mistério cartográfico está concentrado na região norte do Amazonas e parte do Pará, do Amapá e de Roraima.
Por aquelas bandas, o governo brasileiro se assemelha a um latifundiário, com 1,5 milhão de km2 de terra, que percorre a propriedade num vôo cego. Como não há desgraça que nunca acabe, o lado escuro da Amazônia pode ganhar luz no início de 97. Ainda não é o mapa topográfico, mas o IBGE e a SAE aprontam um CD-ROM que promete ser a mais detalhada radiografia ecológica da região.
O território coberto de verde, mata fechada, no CD-ROM perde um pouco dessa uniformidade. A Amazônia tem, na verdade, pelo menos 104 "paisagens ecologicamente diferentes".
Um incrível mapa animado esquadrinha a mutação, da década de 70 a 1994, provocada pelo homem em nome da produção. E fica claro que o Estado de Mato Grosso se transformou em um mar de devastação. Logo atrás vêm Pará, Maranhão e Rondônia.
E enquanto o CD-ROM não chega, mais algumas centenas de árvores devem vir abaixo. Porque não há bem que sempre dure.

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