São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Ainda é só o aperitivo

JANIO DE FREITAS

No dia mesmo em que se completou uma semana da saída de Adib Jatene do Ministério da Saúde por falta de verba, o governo começou nova campanha publicitária com este anúncio: "Há mais de dez anos nossos hospitais estão envelhecidos por falta de investimentos. Agora eles voltam a respirar, com dinheiro novo", e por aí em diante.
A mensagem falsa não foi feita, como pode parecer, com o propósito de neutralizar um pouco a má repercussão da saída de Jatene. O anúncio é, isso sim, o primeiro da campanha criada para coincidir com a pressão da Presidência pela aprovação, no Congresso, do projeto reeleitoral. Outros anúncios já começam a ser transmitidos.
A campanha é paga, em parte, pelos ministérios que estão sem dinheiro para cumprir suas mínimas obrigações -é o caso do Ministério da Saúde. A outra parte é paga por estatais e empresas de economia mista, embora os anúncios não façam publicidade delas, mas do governo. É o caso, por exemplo, do Banco do Brasil.
E nem se chegou ainda à campanha eleitoral, propriamente dita, de Fernando Henrique.
Dá ou desce
Apesar do palavrório recusando modificações na nova tabela do Imposto Territorial Rural, tem fundamento o otimismo do deputado Nelson Marquezelli, líder dos ruralistas, de que o governo fará as concessões mais importantes.
Dois motivos justificam o deputado tão audacioso quanto competente no seu papel. Sua ameaça de que a bancada ruralista votará contra o projeto de reeleição, se não forem diminuídas e estendidas as alíquotas do ITR, já provocou as reações iniciais desejadas, por ordem da Presidência. Como era fácil de prever.
No plano parlamentar, o PFL, que comanda no Congresso as atitudes do governo, é o partido mais beneficiado eleitoralmente pelos ruralistas e grandes proprietários em geral. O apoio dos líderes pefelistas ao novo ITR é encenação: os mesmos que falam em recusa a concessões já conversam com Nelson Marquezelli, e com outros, em torno de abrandamentos do ITR de 20% para as grandes propriedades improdutivas.
Meio a meio
Exatos dois anos depois de anulada a eleição fluminense para deputados, em 94, por evidência de fraudes, o Tribunal Superior Eleitoral anula a anulação. Para manter a coerência com seu ritmo, porém, a decisão não foi suficiente para definir quem perde o mandato e quem o terá, afinal.
Sejam quais e quantos forem os que têm sua vitória restabelecida, perderam metade dos mandatos conquistados. E a Justiça Eleitoral que a tirou, e tardou dois anos para restituí-la, não os ressarcirá pela perda imensa.
A fraude na disputa pela prefeitura de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, já tem prisões e até confissões de compradores e vendedores de votos, em operações que favoreceram o vencedor André Puccinelli, do PMDB.
Não há mais nada a ser provado na fraude que decidiu a eleição por apenas 411 votos. Mas a Justiça Eleitoral ainda está por provar a capacidade de fazer justiça por inteiro, e não meia justiça. Ou meia injustiça.

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