São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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País sintetiza conflitos do Oriente Médio

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

O Líbano é a síntese dos conflitos do Oriente Médio, tanto em suas origens como em seu desenvolvimento. Mas atrai menos atenção no Ocidente que seus vizinhos por não ter petróleo sob seu solo.
Para o visitante, a variedade de grupos religiosos é estonteante. E ajuda a entender as brigas, embora elas sejam apenas políticas.
Entre 3 milhões de habitantes, há cerca de 63% de muçulmanos e 37% de cristãos.
Os primeiros são majoritariamente xiitas, cerca de 34%, mas há uma expressiva comunidade sunita. Entre as minorias, destaca-se a obscura e politicamente importante seita drusa, que responde por 7% da população.
Entre os cristãos, os católicos maronitas dominam. Têm poder político grande: segundo acordo para pôr fim a 15 anos de guerra civil em 1990, o presidente sempre será maronita, o premiê, sunita, e o presidente do Parlamento, xiita.
Guerra
Os grupos religiosos dão os ingredientes dos conflitos. Em datas tão longínquas como 1841 e 1864, já eram registrados massacres de maronitas por sunitas e vice-versa.
Mas a receita da guerra foi traçada pelo mesmo Ocidente que, no dia 16 de dezembro, irá se reunir em Washington para discutir quanto dinheiro será alocado para a reconstrução libanesa.
Como quase todo o Oriente Médio moderno, o Líbano nasceu de um fragmento arrancado por uma potência ocidental (no caso, a França) do moribundo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial.
Em 1920, ficou sob administração colonial francesa. O mercado financeiro floresceu, e o país virou a "Suíça do Oriente Médio".
Até hoje os franceses são os principais parceiros do Líbano. É só andar nas ruas de Beirute e ver as placas em árabe e francês.
Mas há problemas. Os franceses não resolveram, com as fronteiras artificiais, antigas disputas entre os grupos -e também com os vizinhos da Síria.
Em 1958, apenas 12 anos após a saída das tropas francesas, o governo teve de pedir aos EUA ajuda militar para evitar uma guerra civil. Ela veio em 1975, trazendo uma invasão síria para garantir um governo sunita pró-Damasco.
Em 1978 começou o processo de invasões israelenses sob pretexto de conter grupos terroristas.
A OLP de Iasser Arafat foi enxotada de uma Beirute em ruínas em 1983, assim como uma força de paz -esta devido a atentados locais.
O grupo fundamentalista Hizbollah nasceu da resistência à invasão de Israel, sendo bancado e armado por sírios e iranianos.
Hoje, o sul libanês ainda é ocupado por Israel. E em todo o país há cerca de 40 mil soldados sírios -o que faz o turista ser revistado por soldados de dois Exércitos.
Desde 1990, um acerto tenta manter a situação interna calma.
Em abril deste ano, houve um fato inédito na história libanesa: a união temporária de todas as correntes -no caso, contra uma ofensiva israelense no sul do país sobre as bases do Hizbollah, que acabou matando mais civis do que milicianos.
As eleições gerais ocorridas há cerca de dois meses garantiram ao premiê Rafik al Hariri o poder -e a estabilidade, por enquanto.

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