São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Instituição quer parceiro no Mercosul

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o diretor Isaias Raw, o Instituto Butantan está de olho no Mercosul. Além do México, só o Brasil estaria em condições de chegar à auto-suficiência em vacinas entre os latino-americanos.
"Não pretendemos agir como uma multinacional. Queremos parcerias, somando cabeças e recursos para pesquisas."
(AB)
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Folha - Tomar vacina no Brasil é perigoso?
Isaias Raw - Os pais precisam saber que não existe viagem sem risco. Mas o risco é muito maior quando não se vacina. Eliminar uma doença depende de uma vacinação total, em massa.
Folha - O país deveria ter mais vacinas obrigatórias?
Raw - A hepatite B, hoje restrita a algumas regiões, deveria ser obrigatória. Mas se cumprirmos o calendário estabelecido está bom.
Folha - Enquanto o Brasil não se torna auto-suficiente, que cuidados deve tomar na importação?
Raw - O Brasil tem que saber testar as vacinas que compra e as que produz. O país vem lutando contra o cartel das vacinas, interessado em vender sempre o mais caro. As multinacionais querem impingir ao Terceiro Mundo uma conta que não podemos pagar.
Folha - O Brasil pretende ser um exportador de vacinas?
Raw - Primeiro precisamos ser auto-suficientes, e para isso é precisa fazer a vacina, desenvolvê-la e produzi-la em grande escala. Além de diminuir os gastos públicos, ganhamos independência e competência. Quando os grandes souberam que temos uma vacina contra a hepatite B, melhor ou tão boa quanto a deles, passaram a nos levar mais a sério. Os países do Terceiro Mundo já estão batendo às nossas portas, interessados na nossa tecnologia.
Folha - Há um caminho que deveria ser priorizado pelos países em desenvolvimento em termos de vacina?
Raw - Temos que investir em vacinas para a diarréia, a malária, a doença de Chagas, que são doenças que nos afligem. As multinacionais não estão interessadas em produzir esse tipo de vacina. Temos também que aprender a misturar as vacinas. Na Europa e nos EUA eles estão misturando as vacinas do sarampo, da cachumba e da rubéola. Isso facilita muito a aplicação em massa. No ano que vem, quando tivermos a vacina da hepatite B, vamos tentar misturá-la com a tríplice DTP.
Folha - O programa de vacinas corre riscos?
Raw - Cada vez que muda um ministro da Saúde, há um risco. Mas não podemos permitir que se interrompa um trabalho que já tem dez anos e consumiu cerca de R$ 90 milhões.

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