São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ataques ao Mercosul

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Os economistas muitas vezes são atacados pelo pouco rigor com que fazem previsões, mas ruim mesmo é quando um economista expõe seus preconceitos sob a forma de "estudo científico". Neste caso, o melhor antídoto é submetê-lo ao debate com outros economistas, o que, na maioria das vezes, termina revelando o preconceito.
Um exemplo disso é o estudo de Alexander Yeats, economista sênior da divisão de comércio do Banco Mundial, denominado "Será que a Performance Comercial do Mercosul Justifica Preocupação com Acordos Regionais de comércio? Sim!"
Yeats acusa o Mercosul de manter barreiras protecionistas para indústrias não competitivas, demonstrando a tese de que os acordos regionais ao comércio são opostos ao multilateralismo da OMC.
Mas a "prova" é muito fraca; consiste em comparar a taxa de crescimento das exportações do Mercosul para fora do continente como sendo menor, em 1994, do que das exportações para dentro do bloco, especialmente nos itens veículos e máquinas.
O estudo "vazou" para as redações do "Wall Street Journal" e do "Financial Times", resultando em artigos acusatórios. Os embaixadores Paulo Flecha de Lima, Celso Lafer e Rubens Barbosa têm defendido o Mercosul como uma política de "regionalismo aberto". E têm razão.
Yeats não se deu ao trabalho de estudar bem o Mercosul. Não se lembra que o crescimento do comércio intra-regional entre o Brasil e a Argentina é exatamente o que qualquer livro-texto de economia prediz que acontece quando países vizinhos, com complementariedades na produção, diminuem barreiras artificiais ao comércio.
Tampouco observou que a implantação da tarifa externa comum foi feita paralelamente com uma redução tarifária generalizada na região. A tarifa média da Argentina caiu de cerca de 70% em meados dos anos 80 para 16% em 1994, e a do Brasil, de 44% para 12% no mesmo ano (dados do BID). Isso é visível no forte crescimento das importações de fora do bloco.
Por fim, não tomou conhecimento de que a causa do menor dinamismo exportador do Brasil e da Argentina decorre da taxa de câmbio desalinhada dos dois países (moeda local muito valorizada em relação ao dólar) e não devido ao acordo comercial.
Esse estudo de Yeats mostra como alguns setores do Banco Mundial ainda estão ruins das pernas em suas análises. Por essas e outras razões, o prestígio internacional do banco tem despencado.

Texto Anterior: O que diz o contrato temporário
Próximo Texto: Vire o ano com orçamento sob controle
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.