São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Pierre Cardin quer lançar moda na Líbia

Le Monde
de Paris

JOÓLLE STOLZ
EM TRÍPOLI

Quem pensaria em associar o nome de Pierre Cardin ao de Muammar Gaddafi? O "Guia da Revolução Líbia" com certeza não é insensível à moda ocidental, mas parece preferir as grifes italianas -quando não se cobre com as longas vestes de lã dos beduínos, como faz mais frequentemente.
Apesar disso, o estilista parisiense Pierre Cardin passou alguns dias na Líbia no final de novembro, na condição de embaixador da Unesco. Ele foi convidado pelo ministro líbio do Turismo, sob o olhar ligeiramente cético de alguns jornalistas da imprensa francesa e alemã, atraídos pela perspectiva de um encontro insólito.
Gaddafi não é o primeiro "rebelde" com quem Cardin se relaciona: já foi recebido por Fidel Castro e Nelson Mandela. Infelizmente, porém, o esperado encontro não pôde ser concretizado.
O enviado da Unesco teve de se contentar com as saudações do coronel, transmitidas por representantes do governo líbio, e com a cerimônia de hasteamento das cinco "bandeiras da tolerância" -uma para cada continente-, realizada sob o primeiro temporal de inverno que se abateu sobre a praça Verde de Trípoli.
O ritual teve lugar ao pé do Castelo da Cidade Velha, sob o olhar intrigado dos transeuntes e com a participação, não de estudantes secundaristas vestindo uniformes militares (comumente usados pelos colegiais de ambos os sexos), mas dos alunos de uma escola maternal. Incentivo do Ministério das Relações Exteriores francês.
"Eu queria muito vir à Líbia porque é um país do qual, na França, se tem uma visão negativa, sobretudo por causa do embargo, mas do qual o turismo líbio vem transmitindo uma imagem melhor", diz Cardin.
Ele nega estar fazendo política, mas recorda que foi um dos primeiros homens de negócios ocidentais a ir à ex-União Soviética, em 1963, e a penetrar no imenso mercado chinês. Cardin, que abriu uma loja em Tirana, ex-capital do socialismo albanês, gostaria de fazer o mesmo em Trípoli, onde o assíduo consumo de imagens ocidentais transmitidas pelas redes de TV via satélite desperta novos desejos entre os jovens.
A Líbia vem se abrindo timidamente aos visitantes, sobretudo depois do fechamento do Saara argelino por razões de segurança.
Há dezenas de agências de turismo munidas de veículos capazes de trafegar por qualquer terreno. Em 1995, 120 mil turistas enfrentaram os inconvenientes do embargo aéreo e as insuficiências da infra-estrutura hoteleira líbia para conhecer sítios arqueológicos gregos e romanos, a antiga cidade berbere de Ghadamis ou as paisagens lunares do monte Akakus.
Se Cardin não conseguiu convencer outros membros do Maxim's Business Club a acompanhá-lo (porque a postura antiisraelense do coronel Gaddafi lhe valeu sólidas inimizades), sua "iniciativa privada" foi discretamente incentivada pelo Ministério das Relações Exteriores da França.
A disputa entre Paris e Trípoli em função do atentado no vôo da UTA deverá, em princípio, ser resolvida em 1997. Uma delegação industrial de alto nível visitou a Líbia em novembro, e a Elf acaba de reabrir um escritório no país.
Apesar das ameaças de sanções comerciais americanas, os europeus não podem esquecer que a Líbia tem grandes reservas de petróleo e consideráveis jazidas de gás natural, ainda não exploradas -e tudo isso praticamente à sua porta.

Tradução de Clara Allain

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