São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para FHC, Krause errou ao envolvê-lo em acusação

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso avaliou junto a assessores do Palácio do Planalto que o ministro Gustavo Krause (Meio Ambiente e Recursos Hídricos) errou ao envolvê-lo na acusação de corrupção na comissão de Orçamento do Congresso, segundo a Folha apurou.
Na opinião de FHC, Krause poderia ter feito a acusação sem mencioná-lo, o que evitaria eventuais "ilações" de que o presidente teria usado o escândalo para tirar dividendos para ajudar a emenda da reeleição ou para desgastar o PTB.
O partido do deputado Pedrinho Abrão (GO), personagem principal do escândalo, ameaçava formar um bloco na Câmara com o PPB do prefeito Paulo Maluf, um dos maiores opositores da emenda que pode permitir a reeleição. Atualmente, o PTB forma bloco com o PFL, aliado do governo.
Na quinta-feira passada, Abrão, que é líder do PTB na Câmara, foi acusado por Krause de cobrar propina da empreiteira Andrade Gutierrez para agilizar a liberação de recursos para a barragem do Castanhão, no Ceará. A obra está sendo tocada pela empresa.
Krause afirmou ter ouvido a acusação de Alfredo Moreira, um dos diretores da empreiteira em Brasília. Segundo o ministro, na terça-feira da semana passada, ele foi ao Palácio do Planalto e relatou a história a FHC.
FHC teria, então, combinado com o ministro que Krause ficaria encarregado de "tomar as providências" necessárias.
Para assessores de FHC, Krause poderia ter relatado o caso sem citar o presidente. A intenção de FHC era não se envolver, já que qualquer punição ao deputado tem de partir da Câmara.
Cargo estável
Apesar dessa avaliação, o Palácio do Planalto considera que a situação de Krause no ministério não está comprometida. Assessores de FHC comentaram que ele saiu de forma "razoável" do episódio.
Em nenhum momento, eles concluíram que o ministro tivesse agido de má-fé ao citar FHC.
Entre os assessores do presidente, é consenso que a acusação de tentativa de extorsão foi um fato isolado. Eles frisam que não consideram que essa seja uma prática comum entre os integrantes da comissão de Orçamento.
Mesmo com o contratempo, o governo faz uma avaliação positiva do episódio. A acusação teria um ar moralizador e mostraria que o Planalto e seu ministério não estão dispostos a aceitar práticas de suposta corrupção.
Outra análise é que, de certa forma, os parlamentares passariam a se sentir "intimidados" pela importância que se deu ao caso. Isso esvaziaria futuras negociatas.

Texto Anterior: Só com CPI
Próximo Texto: Presidente foi informado na terça sobre acusações a Abrão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.