São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Bar Doce Bar" explora lugar-comum masculino

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Nestes últimos anos, em "A Guerra Santa", "O Livro de Jó", "Merlin", Luís Alberto de Abreu dialogou com o melhor da encenação, com companhias, elencos de grande ambição em arte.
Com altos e baixos, passou pela poesia e tradição sacra e ainda arrisca por tal caminho. Por outro lado, cedeu na qualidade de autor, propriamente, com obras que têm muito de coletivas.
Talvez devesse, ainda que com os altos e baixos, seguir em escritura assim, de caráter coletivo. "Bar Doce Bar", texto mais caracteristicamente seu, resvala pelo popularesco, pelo lugar-comum, pela pobreza estética, com pouco da mencionada ambição.
Também com pouco da agressividade politicamente incorreta, por exemplo, de "Os Cafajestes", comédia musical baiana que apresentou esquetes algo semelhantes sobre o mesmo "universo masculino". Também com pouco do besteirol desbragado de outro "Bar, Doce Bar", 15 anos atrás, o primeiro espetáculo do gênero, com a dupla Felipe Pinheiro e Pedro Cardoso.
Com um garçom-narrador pouco inspirado e seis amigos que deixam a vida passar entre brigas, namoradas, filhos, sempre ali, no bar, o espetáculo está além do limite do kitsch.
Em alegoria das mais pobres, homens são "lobos" cujo "vício é a alcatéia e a alcatéia é o bar". Ouvem-se uivos e lamentações sobre o homem reduzido a levar carrinho em supermercado.
"Bar Doce Bar" não se contenta em ser comédia musical, entra pela pieguice, pelo "viver não é coisa fácil, não" -com anacronismos de toda ordem, até uma exótica menção ao Dops.
Anacronismos saudosos, sem relação com o que vivem hoje, afinal, os homens. Nada da violência cotidiana, das drogas, da Aids ou da falta de emprego. E o garçom a dizer, empostado, "aqui a vida pulsa"; e os "lobos" a batucar "Trem das Onze".
Muito da peça é lesado pelo garçom Alfredo, cujo ator não é identificado no programa, assim como não é o do bêbado Léo, composto pelo mais talentoso dos comediantes em cena.

Peça: Bar Doce Bar
Quando: quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h
Onde: Teatro Ruth Escobar (r. dos Ingleses, 209, tel.289-2358)
Quanto: R$ 20

Texto Anterior: Atores e diretores se reúnem com governo
Próximo Texto: Retrato completo de Gilberto Freyre faz falta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.