São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Joaquinzão vive em asilo em SP

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem poder e esquecido pela família, o sindicalista Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, 70, vive hoje em um asilo de velhos na periferia de São Paulo.
Bajulado por governantes, querido por empresários e seguido por uma multidão de trabalhadores, ele reinou no sindicalismo até o final dos anos 80.
Cordial com os patrões, Joaquinzão virou sinônimo daquilo que se chama "pelego" no mundo sindical. Presidiu por 22 anos o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, um dos mais poderosos do país.
"Tem gente que acha que ganhei muito dinheiro, mas na verdade eu fazia uma luta romântica, sem tirar nenhum proveito pessoal", disse Joaquinzão à Folha, anteontem, no horário de visita do Recanto dos Idosos, na Vila Formosa (zona leste).
Traído pela memória fraca, o ex-sindicalista narra com dificuldade a sua carreira. Carregado de culpa, atribui o seu abandono à forma como cuidou da família. "Nunca fui bom marido nem bom pai. Gastei a vida com o sindicalismo e as mulheres, muitas mulheres", conta.
Joaquinzão chegou ao asilo há dois meses. Antes, morava sozinho, em uma casa no bairro da Penha (zona leste). "Tinha uma mulher, mas como fui muito ingrato com ela, acabei ficando sozinho, doente", relata.
Em um quarto com dez "companheiros", o sindicalista esperava, em vão, na tarde de sábado, a visita de um dos filhos.
Para completar a sua irritação, um grupo de evangélicos celebrava, aos gritos, um culto no asilo.
"Nunca fui muito chegado a religião", diz. "Os petistas, meus inimigos, são igrejeiros", desdenha.
Joaquinzão se queixa mais do abandono do que propriamente da falta de dinheiro. Conta que conseguiu melhorar a sua aposentadoria recentemente.
"Eu ganhava uns quatro salários mínimos, mas agora passei a receber uns R$ 1.400, aposentado como juiz classista da Justiça do Trabalho", diz.
Segundo funcionários do asilo, Joaquinzão gasta cerca de R$ 500 reais com a mensalidade na casa, mas o ex-sindicalista não lembra ter pago nada até o momento.
Ex-presidente no período mais influente da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), Joaquinzão diz que não guarda mágoas, mas acha que foi "maltratado" pelo PSDB, partido pelo qual se elegeu segundo suplente do então senador Mário Covas, em 86.

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