São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Bolsas pagam o preço da globalização

'Efeito Greenspan' chega ao país

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

As Bolsas de Valores brasileiras sentiram, nos últimos dias, o gostinho amargo da globalização dos mercados financeiros.
Duas palavrinhas, disparadas pelo presidente do Federal Reserve Board (Fed, o banco central dos EUA), Alan Greenspan, conseguiram interromper a alta das ações em diversas Bolsas do mundo, inclusive nas de São Paulo (Bovespa) e Rio de Janeiro (BVRJ).
"Exuberância irracional", afirmou Greenspan a respeito do fôlego de leão do mercado acionário norte-americano. O comentário assustou investidores, que pressagiaram alta dos juros e maus momentos para as empresas norte-americanas e venderam ações imediatamente, provocando a derrocada dos preços globo afora.
Veja no gráfico ao lado a semelhança nas curvas dos índices das principais Bolsas de cinco países, desde a quinta-feira, dia 5.
Na Bolsa paulista, onde cerca de 20% dos negócios têm por trás investimentos estrangeiros, o índice das ações mais negociadas esbanjava uma valorização acumulada no ano de 61,6% até Greenspan dar suas declarações.
Preço da globalização
O Ibovespa, que chegara a 69.471 pontos, escorregou na sequência para 68.729 pontos e terminou a semana passada em 66.801 pontos (55,39% de alta no ano).
"Pagamos o preço da globalização", disse Alfredo Rizkallah, presidente da Bovespa.
No Rio, os investidores também devolveram dinheiro ao mercado: o IBV cedeu 6,2 pontos percentuais de sua valorização nominal, chegando a 51,63% de alta até sexta-feira passada, segundo a consultoria Economática.
Essa reação mostrou que as Bolsas brasileiras dependem cada vez mais dos humores internacionais sobre questões econômicas específicas -como o ritmo de crescimento e as taxas de juros nos EUA- cujos reflexos vão além das fronteiras dos países envolvidos.
"Os fatores internos de cada país são cruciais, mas não são os únicos que importam", resume Rizkallah.
Fica a lição: se de um lado a globalização aumenta a oferta e procura, de outro eleva o risco do investimento em ações -até para quem só investe no próprio país.
No caso do Brasil, é difícil avaliar a duração da ressaca. O presidente da Bovespa acha que a maré baixa dos mercados internacionais tende a afetar menos as Bolsas do país, por uma questão de preço e importância nas carteiras de investimentos dos grandes fundos institucionais americanos e europeus.
"Os preços das ações nos Estados Unidos e na Europa estão mais elevados do que aqui, quando se compara as cotações com os lucros das empresas. Essa atratividade das ações brasileiras será levada em consideração", diz Rizkallah.
Tendência de alta
Para Julius Buchenrode, diretor da corretora Unibanco, as influências negativas de Wall Street têm mais força no curto prazo. Depois disso, a tendência é manter a alta.
"O estrago sempre acontece no curto prazo, mas como as perspectivas econômicas do país são positivas, podemos esperar dias melhores adiante", diz o executivo.
Buchenrode lembra que o mercado local tem oscilado mais devido à proximidade do vencimento no mercado de opções de compra e venda de ações, que ocorre hoje.
Normalmente, o vencimento das opções distorce as tendências dominantes, pois gigantes financeiros fazem grandes apostas no mercado futuro de ações e jogam pesado nas operações à vista para defender suas posições. O jeito, para quem não gosta de briga, é esperar.

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