São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996
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A estabilidade e o desemprego

LUIZ FERNANDO VIEIRA

O desemprego é, sem dúvida, o mais grave problema socioeconômico enfrentado pelo mundo contemporâneo. Economistas e líderes políticos têm debatido as causas da falta de emprego e trocado acusações sobre a responsabilidade de cada um em relação ao problema.
Aos poucos, porém, vai se criando uma certa unanimidade quanto ao responsável pelos crescentes índices de desemprego que afetam o Primeiro Mundo já há quase uma década e começam a assustar, agora, os países em desenvolvimento.
A opção dos governos por moeda forte e inflação baixa a qualquer custo tem sido a causa preferida dos especialistas para justificar a redução do nível de emprego. E parece ser o motivo principal do problema, já que tal opção tem freado o crescimento econômico, reduzindo as oportunidades de trabalho.
Ao perseguir a estabilização monetária, os governos preferiram obter uma moeda forte a garantir o emprego, porque não há possibilidade de buscar a rigidez das finanças sem afetar os índices de crescimento, estes últimos os eixos geradores de empregos em qualquer economia.
O resultado da escolha, contudo, não era esperado ou, se era, foi uma irresponsabilidade.
Criou-se um desequilíbrio entre a oferta de vagas e a demanda por trabalho. Não demorou muito e essa distorção resultou em índices de desemprego cada vez maiores e de crescimento econômico cada vez menores.
Surgiu, então, o que alguns economistas chamam de "geração perdida de trabalhadores". Com essa geração, que, na França, convive com desemprego de 11%, na Alemanha, de 10,6%, e na Espanha, de 20%, nasceram frutos deformados do capitalismo neoliberal: aumento da criminalidade, crescimento da violência contra imigrantes e multiplicação de grupos políticos extremistas.
O Primeiro Mundo apostou na moeda em detrimento do homem. Agora, enfrenta o crescente descontentamento dos desempregados. No mundo em desenvolvimento, somente agora os governos vêm aplicando o receituário neoliberal de perseguir a estabilização econômica a qualquer custo.
Por isso, no Brasil, ainda há tempo de corrigir erros cometidos pelos "infalíveis" economistas do exterior.
Deve-se priorizar o humano, fortalecendo o trabalho, apostando no crescimento econômico. Para alcançar tal objetivo, há que operar com políticas microeconômicas e ações macroeconômicas.
No âmbito das microações, a expansão do ensino e do treinamento é o caminho mais indicado. A abertura econômica trouxe a concorrência, a competitividade, a qualidade, o preço menor. Mas trouxe também o desafio ao empresariado de produzir mais e melhor com menor custo.
O investimento no ensino e no treinamento, portanto, é justificado, até porque, no caso do Brasil, já se tem uma estrutura pronta para o treinamento de mão-de-obra, como o Senac e o Senai.
Somente escola e aprimoramento profissional, porém, não são suficientes para afastar do país o fantasma que assombra o mundo rico e também nossos vizinhos argentinos. Medidas macroeconômicas precisam ser tomadas pelo governo. Entre elas, mudanças tributárias e afrouxamento monetário.
Nesse último caso, aliás, o problema já foi percebido pelo governo, que vem reduzindo os juros e liberando os compulsórios. Isso permitirá maior volume de dinheiro no mercado para o empresário investir mais na produção, implementando assim o ciclo positivo de geração de emprego e de renda.
Adotar políticas rígidas de gastos e de controle da inflação é mesmo uma necessidade. O que se deve discutir, contudo, é o limite desse aperto, coisa que parece não ter sido levada em conta pelos economistas do mundo rico.
Não se pode permitir que se crie aqui uma geração perdida de trabalhadores, empurrados para fora do mercado por força do desemprego, nem líderes extremistas pregando a violência como forma de resolução de nossos problemas socioeconômicos.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a seção Semana Econômica

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