São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 1996
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Turista nada em praia poluída no Guarujá

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, NO GUARUJÁ

Fracassou a tentativa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de orientar os veranistas a não tomar banho de mar em um trecho de 1.200 m contaminado por esgoto na Enseada, no Guarujá (SP).
A secretaria iniciou na terça-feira a sinalização da praia, mas ontem várias pessoas tomavam banho no trecho comprometido.
A sinalização se resumiu à instalação de uma placa e duas faixas. A placa, na altura da rua Chile, com a inscrição "praia imprópria para banho de mar", foi arrancada.
Ontem de manhã, a placa foi recolhida em um córrego pela Cetesb (Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental).
As faixas estavam posicionadas nas extremidades do trecho de 1.200 metros -entre as ruas Peru e Guadalajara. Entre elas não havia nenhuma outra sinalização.
A Agência Folha constatou ontem a presença nesse trecho de fezes na beira do mar. A poluição é causada pelo rompimento de um emissário submarino e pelo esgoto clandestino.
Absorventes e camisinhas
A dona-de-casa Lúcia Cordeiro, 25, de Curitiba (PR), foi ontem pela primeira vez à praia da Enseada e disse ter entrado no mar no trecho impróprio porque não sabia da existência de esgoto.
Ela afirmou ter visto fezes boiando na água e sentido mau cheiro.
O guarda-vidas Bonifácio Guerra de Carvalho, do Corpo de Bombeiros, disse que a areia da Enseada, normalmente clara, está ficando escurecida próximo à água.
"A praia está com um odor de fossa. A gente vê na beira da água fezes, absorventes e até camisinhas, esgoto mesmo", disse Carvalho, que trabalha justamente no trecho comprometido.
Para Josefa Lins Vieira, 38, a frustração é maior. Ela investiu cerca de R$ 8.000 em um quiosque de bebidas na Enseada, também no trecho contaminado.
"Nesta época as vendas já deveriam ter melhorado. Só que, depois disso (o esgoto na praia), estou desanimada", declarou.
O empresário Pascuale Ciardo, 52, dono de um apartamento na rua Colômbia, disse que, ao saber da poluição, proibiu seus três filhos de tomar banho de mar.
"A gente espera o ano inteiro para frequentar o Guarujá e acontece isso. Aqui, não entramos de jeito nenhum", afirmou Ciardo, que pretende passar a frequentar a praia de Iporanga, agora liberada pela Justiça para não-moradores do condomínio instalado no local.
O técnico em segurança Roberto Andres, 31, de São Paulo, foi informado sobre a poluição pela Agência Folha, ao sair do mar.
Andres estranhou a sujeira. "Havia fezes, parecia depósito de lixo. Não entro mais na água. Não quero tomar banho no esgoto."

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