São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 1996
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África negra: da colonização à 'barbárie'

MARIA ODETTE S. BRANCATELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Levar a luz e a civilização aos lugares escuros do mundo." Assim, um contemporâneo do processo de colonização da África justificava a ação européia em 1897.
Contudo, um século depois, o que se vê em grande parte da África contraria aquele objetivo: massacres entre etnias, guerrilhas, tribalismo, governos opressores, endemias e miséria.
A África Negra -a grosso modo, o território ao sul do Saara- forneceu, desde o século 16, escravos para as colônias americanas. O tráfico negreiro estimulou conflitos intertribais pré-existentes e criou alianças de certos grupos aos europeus.
Foi, porém, no século 19, que as potências capitalistas da Europa lançaram-se à conquista territorial da África. Implantou-se a dominação política, exploração econômica e sujeição cultural, em meio à acirrada disputa, legitimadas pela "missão civilizadora" do homem branco.
Na Conferência de Berlim (1884-85), a África foi partilhada, ignorando-se a complexidade étnico-cultural e a organização tribal. Fronteiras artificiais estabeleceram o "dividir para reinar".
Após a 2ª Guerra, com a descolonização, as fronteiras não foram repensadas. As elites coloniais conduziram a independência, que forjou uma identidade nacional e constituiu dezenas de países nos anos 60 e 70, artificiais como entidades políticas.
Com o fim da Guerra Fria, conflitos étnico-tribais explodiram, reforçados pela marginalização social e estagnação econômica.
O caso da África central é bem ilustrativo, onde as etnias tutsi e hutu (maioria) estão em confronto.
Independente em 1960, a República Popular do Congo (ex-Congo Belga e atual Zaire) viveu uma guerra civil entre unitaristas e federalistas. Mobutu tomou o poder e sufocou levantes separatistas.
Em 94, violenta guerra civil em Ruanda levou ao genocídio de tutsis por extremistas hutus. A vitória dos primeiros provocou o êxodo de civis e combatentes hutus para o leste do Zaire, onde ficaram em campo de refugiados.
Rebeldes tutsis, que querem derrubar o ditador Mobutu, dominaram a região e expulsaram os refugiados. Civis voltaram a Ruanda; combatentes, temendo represália tutsi, foram para as florestas. Fome e doenças seguem os sobreviventes.
Diante dessa tragédia, confirma-se a inviabilidade das divisões territoriais. Cabe aos africanos minimizar os males legados pela colonização e buscar sua verdadeira identidade. Aos europeus, encarar essas herança.

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